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A mostrar mensagens de 2009

Taxistas I

Entro no táxi junto ao Vasco da Gama. - É para o ISLA, em Carnide, se faz favor. - Para o ISLA? - Sim, em Carnide. - Carnide? - Sim, é frente à Casa do Artista. - Ah! Longo silêncio. A Avenida EUA está entupida. Travessia: 15 minutos. Vou entregue aos meus pensamentos sobre as estratégias a adoptar na aula. Arranca o noticiário das 18:00 na Rádio Renascença: o CDS-PP não vai viabilizar a lei do casamento homossexual. - A menina já viu esta pouca-vergonha?! “Casamento homossexual”! Onde é que já se viu isto?! Só à chicotada! Mas a menina já viu?! - Pois… - Já viu isto?! - Pois… Fui salva pelas notícias desportivas: Hulk promete arrasar no clássico de Domingo contra o Benfica. Alto! O taxista sobe o volume girando o botão três quartos de volta: fim de conversa que agora é sério! Felizmente, as notícias desportivas são mais longas e esticaram até ao destino. Acho que regresso de Metro.

Mergulhos

Mergulhos Mais um dia infernal com agenda sem espaços. Revisões, orçamentos, prazos, mails e mais mails, dentista pelo meio, revisões, orçamentos, prazos, mails e mais mails. Mergulho na revisão de uma sentença do Supremo italiano. Perco-me nos itálicos das expressões latinas e nas referências à jurisprudência alemã. - Não se esqueça do dentista! - Vou já! Como sempre, saio à pressa, esqueço as agendas – a que não tem espaços e a do próximo ano, para a próxima consulta, mas levo o último Marc Levy em baixo do braço. O tempo não ajuda. Chove. Está frio e eu de gabardine… Estou sem paciência, decido estacionar no subterrâneo mais próximo. Entro no consultório e escolho um cúmplice canto de sofá. Abro o meu livro e mergulho. Mergulho no Mar Egeu e faço a travessia de ferry entre Heráclio e Atenas. Observo as paisagens cor de fogo do Vale do Omo, na Etiópia. Sinto a adrenalina da fuga a cientistas obcecados pelo inexplicável. Imagino buscas a berços civilizacionais e… - Ana, isto está demo

Páginas Lentas 2

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É já no próximo Domingo (dia 13, pelas 16:00) o lançamento da colectânea “Páginas Lentas 2”. À semelhança do que sucedeu no ano passado com a colectânea “Páginas Lentas 1”, esta iniciativa do GICAV (Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu) reúne textos inéditos de autores viseenses, nos mais diversos estilos literários: poesia, conto, ficção, fragmentos, vivências, devaneios… Para todos os gostos. Este ano, a alguns “repetentes” do ano passado vieram juntar-se novos nomes da nossa cidade e um ilustrador, o autor da capa, Yuraldi Rodrigues Puentes. As vendas deste ano revertem a favor do Centro de Acolhimento Temporário de crianças de Viseu. Nesta colectânea, participo com um novo conto da minha autoria, o “Conto Decalcado”. Muito em breve, será criado o blogue desta segunda colectânea. Para já, aqui fica a ligação relativa à iniciativa do ano passado, para acompanhar esta aventura: http://paginaslentas.blogspot.com/ No próximo ano, há mais e o projecto está sempre à proc

Mini-conto de Inverno

Chegou finalmente a casa. Durante o dia, pensara várias vezes nesse momento em que fecharia a porta à sua infernal agenda. Silêncio. Silêncio. Decidiu não ligar a TV. Trouxera comida do Sushi Bar da esquina e tinha decidido no caminho que jantaria em conformidade: sentado no chão e em silêncio. Despiu o sobretudo de caxemira que pendurou no cabide da entrada, descalçou-se e arrumou metodicamente os sapatos na sapateira do corredor, enquanto ia pensando: «quem disse que um homem sozinho não pode ser arrumado?!». Sorriu. Sorriu. Foi para a sala e instalou-se comodamente em posição de lótus, no chão, entre o sofá e a mesinha baixa. Desembrulhou meticulosamente as camadas de embalagens do take-away e admirou por uns segundos o seu jantar. Apercebeu-se então que se tinha esquecido do talher e de qualquer coisa para beber. «O que se bebe com sushi?», pensou. Pensou. Levantou-se, foi à cozinha, tirou o talher da gaveta e decidiu-se por Pleno de erva-cidreira. Tinha tudo a ver. Chá, sushi, chã

Perda?

Perco o sono e o apetite, Perco a noção do tempo e do espaço, Perco referências e normas, logo, o controlo… Sou conduzida por impulsos e pela confusão, Ando em viagem, sem data marcada para o regresso. O timoneiro, omnipresente, encandeia e inebria, Vaticina o futuro, derruba o passado. O seu conhecimento de mim desarma-me e vexa-me. Fico nua. Perdida?

Friends

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Não é segredo de que sou uma feminista convicta. Sou daquelas aves raras que ainda acreditam na amizade sincera entre mulheres, na cumplicidade e na partilha. Nas últimas duas semanas, duas das minhas melhores amigas fizeram 40 anos e eu não poderia deixar de as homenagear aqui. A Ana é minha amiga há quase 20 anos. É das pessoas mais generosas e genuínas que conheço. Tem estado sempre presente, nos bons e nos maus momentos. Sempre bem disposta, basta um telefonema e ela move mundos. Tem um coração enorme e uma legião de fãs, como eu… A Rita é, como gosto de dizer, a minha melhor “aquisição” dos últimos anos. A cumplicidade que nos une é grandiosa: basta um olhar. É das mulheres mais sensíveis e criativas que conheço. É bondosa, emocional e sempre atenta. Adoro-a! Ficam duas fotos das respectivas festas de anos, para mais tarde recordar, e um dos mais belos duetos femininos de sempre. PARABÉNS AMIGAS!

Coincidência

Saí de manhãzinha para uma maratona de palavras. A perspectiva de uma clausura forçada e de uma batalha contra o tempo pesa-me no rosto. Entro no carro, ligo a ignição, abro a janela: a brisa matinal refresca-me as ideias e a música que passa na rádio descontrai-me. A voz feminina embala-me até à prisão. O dia foi como esperava: sprints frenéticos no teclado, lutas contra o sono (cujo balanço anda deficitário…), o almoço comido à secretária… Episódios entremeados com pensamentos que me assaltam, pensamentos que decorrem de novos projectos, novas emoções… Até os olhos não aguentarem. Saio no finalzinho da tarde para o aconchego do lar. A perspectiva de umas horas longe do computador e de uma trégua às palavras alivia-me a tensão. Entro no carro, ligo a ignição, abro a janela: a brisa de um fim de tarde a lembrar Outubro refresca-me as ideias e a música – exactamente a mesma música! – embala-me até casa.

Amarras

Ultimamente, tenho-me afastado do porto. Intermitente… Vou e volto… Nesses episódios sem âncora, Flutuo, suspiro e sorrio. Abrando os meus rituais, Roçando o quase-desleixo; Não estico o cabelo, Libertando os meus jeitos naturais, Calço sabrinas, Dando descanso à minha postura, Esqueço-me da agenda, Quero lá saber… Logo se vê… E no caminho de regresso ao cais, Invade-me este contraditório sentimento de Paz, Completude… Procuro as amarras, Sem pressas… (Ana B., 13.09.09)

Poesia de outros de que gosto II

Quanto Mais Amada Mais Desisto De amor nada mais resta que um Outubro e quanto mais amada mais desisto: quanto mais tu me despes mais me cubro e quanto mais me escondo mais me avisto. E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, por fora te ajoelho, corpo místico. Não me acordes. Estou morta na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem. Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carne queres reter-me jovem. Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"

«A vida é uma escalada, mas a vista é bela!»

Fui hoje ao cinema com a minha filha ver o último Hanna Montana. Não que fizesse questão de ver, mas… Sim, é verdade, assumo: não sou mãe-galinha, mas ainda não deixo a rapariga ir ao cinema sozinha… É a chamada síndroma Maddy McCain. Nem vou perder tempo com o filme, é a americanice do costume… Contudo, e porque ando sempre à caça de vozes femininas que possam despertar um qualquer tipo de sentimento, brando ou profundo, detive-me por segundos na voz da tal Miley… E não é que a rapariga canta bem?! Deixo-vos com a música-âncora do filme, sob o mote que dá o título a este post.

Tonya Baker: a voz divina

Este ano, não podia deixar passar a oportunidade: já seria a terceira vez que falharia La Nuit du Gospel, em Biarritz. Não há desculpas, até estamos hospedados num hotel da Place Sainte Eugénie, bem no coração da cidadezinha basca, e a “cabeça de cartaz” é imperdível: Tonya Baker. Todos os anos, e pelo 7.º ano consecutivo, a produtora LMI leva a 100 cidades francesas La Nuit du Gospel, dando a conhecer o melhor do Gospel americano. Este ano em Biarritz coube a vez a Tonya Baker a aos The Divinity Gospel Singers. O local é igualmente emblemático: a imponente igreja de Sainte Eugénie, defronte para o mar e para o Rochedo da Virgem. Foi a minha estreia num concerto de Gospel ao vivo. As minhas referências eram eminentemente televisivas e estandardizadas. Estava à espera de ver o altar invadido por duas ou três dezenas de embatinados negros… Enganei-me. Entraram 3 músicos: teclas, percussão e viola. Entrou a elegantíssima Tonya Baker no seu normalíssimo, mas não menos elegantíssimo, vestid

Piaf pós-operatória

Levantei-me com náuseas e irritada. «Estou farta», pensei. Não tenho perfil de prima-dona e muito menos de zombie. Levantei-me, fui à cozinha, fiz o meu chá de sementes de funcho para ver se ponho o intestino a funcionar (aquele xarope laxante que o médico receitou é intragável e provoca umas cólicas insuportáveis…), e tomei algumas resoluções: 1. Mandar a medicação às urtigas (só tomo o anti-inflamatório, não vá o diabo tecê-las…), 2. Sair de casa e 3. Pôr a leitura e a escrita em dia (so many things to read, so many things to write!). Uma rápida pesquisa na Net e a decisão estava tomada: «É isso mesmo, Piaf!». E lá fui eu, bem devagarinho, à matinée do Politeama. Não tive direito à Wanda Stuart, mas a interpretação da Sónia Lisboa é excelente: a forma como ela encarna o processo de envelhecimento e decadência de Edith Piaf é notável. A voz, embora sem semelhante, é potente e transmite na perfeição o escárnio da mulher vivida e dorida. A interpretação da Noémia Costa é brilhante. Os c

Ana Maria

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Sempre tive uma admiração secreta (not anymore…) por quem, sem o esperarmos, resolve virar a sua vida de pernas para o ar. Pessoas há que estão sempre a ameaçar: «qualquer dia faço…». Outras, pela calada, preservando toda a sua intimidade e o seu espaço, chegam um belo dia e… «Vou viver para a Austrália.» Ponto final. Não é ponto de exclamação. Não são reticências. É ponto final. Eu e a Ana Maria costumávamos “dar boleia” uma à outra no comboio que nos levava e trazia de Cascais para Lisboa e de Lisboa para Cascais. Éramos colegas e trabalhávamos com frequência nos mesmos eventos. Aqueles 45 minutos a contornar a marginal traziam consigo um halo de paz e tranquilidade. A Ana é mais velha do que eu (tem quase a idade da minha mãe) e é daquelas mulheres eternamente belas pela sua serenidade e olhar longínquo. As viagens eram alternadas entre silêncios, venturas e desventuras. Guardo como sábios todos os conselhos que a Ana Maria me foi dando ao longo dos anos de viagem. Sensatez, pondera

Poesia de outros de que gosto

Não sei de amor senão Não sei de amor senão o amor perdido o amor que só se tem de nunca o ter procuro em cada corpo o nunca tido e é esse que não pára de doer. Não sei de amor senão o amor ferido de tanto te encontrar e te perder. Não sei de amor senão o não ter tido teu corpo que não cesso de perder nem de outro modo sei se tem sentido este amor que só vive de não ter o teu corpo que é meu porque perdido não sei de amor senão esse doer. Não sei de amor senão esse perder teu corpo tão sem ti e nunca tido para sempre só meu de nunca o ter teu corpo que me dói no corpo ferido onde não deixou nunca de doer não sei de amor senão o amor perdido. Não sei de amor senão o sem sentido deste amor que não morre por morrer o teu corpo tão nu nunca despido o teu corpo tão vivo de o perder neste amor que só é de não ter sido não sei de amor senão esse não ter. Não sei de amor senão o não haver Amor que dure mais que o não tido. Há um corpo que não pára de doer só esse é que não morre de tão perdido

Insónia

Noite em branco de branco Prelúdios em catadupa Euforia relativa Flashes de lucidez libertadora Chega, sorrateira, sem aviso prévio Sem motivação lógica Toma posse de corpo e mente Arrasta o tudo que sou consigo Vence a resistência dos olhos cerrados E da imobilidade que me imponho Conduz-me sem roteiro para onde não quero Prende-me a cadeados na plateia do que não quero ver Deixa o rasto do cansaço físico E o travo amargo do esquecimento Vai-se, sorrateira, como emergiu Sem porquês nem data marcada para o regresso E quando, finalmente, abandono a cama É o vazio que me assalta Já vão longe e esbatidos os fragmentos Que me roubaram a brancura do sono

Um ano de blogue

26 posts depois, 23 livros depois, Quantas vozes? Quanta partilha? Há quem diga que me exponho. Há quem me tenha descoberto. Desilusão, curiosidade, simpatia… Dos outros. Cumplicidade, equilíbrio, realização… De mim. Um agradecimento sentido aos que foram comentando, publicamente, e aos que me foram fazendo chegar as suas impressões. Sem eles, nada disto faria sentido. Ou faria?

Edith Piaf

Há dias, a minha amiga Sara Rocha enviou-me por e-mail o vídeo abaixo sob o pretexto de que, quando o ouviu se lembrou imediatamente das minhas vozes femininas… Na verdade, Edith Piaf, e esta música em particular, tem não só a ver com este blogue, como também com todo o meu imaginário musical, visto que ouço Edith Piaf, por influência paterna, desde criança. Nunca escondi as minhas influências musicais francófonas (este blogue é prova disso), bem como a minha preferência por cantores canadianos. Pois bem, este “duo virtual” – muito badalado em 2004 – é, precisamente, interpretado pela saudosa Edith Piaf e por Isabelle Boulay, uma cantora canadiana do Quebec – como a grande Céline Dion – de quem gosto muito. O privilégio de um duo “póstumo e virtual” com uma das vozes mais cristalinas de todos os tempos só tinha sido até então concedido a Charles Aznavour, outro grande nome da cena musical francesa. Mas, esta música, a primeira que Isabelle cantou em público aos 8 anos, era também a mús

On a plain

Conheci a Ana Martins através da escrita, no projecto Páginas Lentas. Quer queiramos, quer não, que o tentemos ocultar ou não, a escrita sempre vai revelando alguns aspectos de nós, e eu simpatizei com a Ana. O Páginas Lentas, com o aporte de sangue novo de outros quadrantes, acabou por dar lugar a algumas sinergias interessantes. Uma delas é o grupo de teatro Ort do qual eu e a Ana fazemos parte. Por essa altura, ouvi dizer que a Ana era vocalista de uma banda: os On a plain. Coincidência das coincidências, e porque – como a própria gosta de dizer – “o mundo é do tamanho de uma ervilha”, a Ana é tia de uma amiguinha da minha filha e foi lá um dia destes à escolinha onde acabou por distribuir uns CD autografados… Bem, o que descobri a partir daqui é absolutamente surpreendente. Pesquisa puxa pesquisa, site para aqui, youtube para ali, rendi-me completamente! Amizade e simpatia à parte, a Ana e os On a Plain são uma banda e peras: têm estilo e ritmo, presença de palco, e… a voz da Ana é

Continuidade...

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Um ano. A mais. A correr. Tudo na mesma. Para o bem. Para o mal. Um ano. As mesmas rugas de expressão. O mesmo peso. O mesmo cabelo branco. Perdido. Só. A mesma aversão pelos cortes de cabelo. Um ano. A lutar. Contra o tempo que escasseia. Contra a impotência. A minha e a dos outros. Contra o tumor benigno que incomoda. Contra a lista dos livros que quero ler. Um ano. E continuo… Obcecada pela ordem, pela simetria. Na estante, na secretária, no carrinho das compras. A tentar reciclar-me meditando. Um ano. E continuo… A chorar os meus avós, a minha infertilidade. A celebrar a minha mão-cheia de amigos, A saúde da minha família, A sorte de amar esta labuta. Os bons livros, a boa música, as boas vozes. Continuo por cá.

Viana!

Como muitos dos meus seguidores saberão, o meu coração é meio-beiraltino, meio-minhoto (não forçosamente por esta ordem…). A minha prima Elisa enviou-me hoje este vídeo que não resisto em partilhar convosco: um belo poema de Pedro Homem de Melo, na voz singular de Amália Rodrigues… pois então! Uma Ode a uma das mais lindas cidades portuguesas (para não dizer a mais linda), contornada por um rio nas margens do qual encontro uma parte das minhas origens. Desfrutem!

Impressões de um fim-de-semana na Polónia

O voo LH 4545 aterrou no Aeroporto Internacional de Cracóvia sexta-feira passada, por volta das 12:30 locais. Era a minha estreia na Polónia, mas tínhamos à espera um amigo de longa data. O Radek foi meu aluno na UCP, em 1999, ao abrigo do acordo de geminação entre a cidade de Viseu e a cidade polaca de Lublin. Desde aí, nunca mais perdemos o contacto: o Radek voltou a Portugal em 2004 e a minha promessa de visitar um dia a Polónia ficou adiada até à passada semana. Ao longo dos anos, tenho sido uma espécie de conselheira profissional. Hoje, o Radek é um dos 13 tradutores-intérpretes de língua portuguesa existentes neste gigantesco país de 38 milhões de habitantes. Num português quase perfeito e com uma desenvoltura oral fora do comum, o Radek serviu-nos de guia neste primeiro dia de visita à Polónia! Do aeroporto seguimos para uma visita ao Campo de Concentração de Auschwitz. Há muito que projectava essa visita. Mas, por mais que se leia sobre o assunto, se vejam documentários ou reve

A Morte de um Blogue

Fui hoje surpreendida com a notícia da remoção de um dos blogues que ia acompanhando e comentando assiduamente. O blogue em questão era o Ad-Lectorem da minha grande amiga Rita. Um blogue essencialmente dedicado aos seus alunos e ao seu ofício de professora. À primeira vista, o tema pode não me dizer muito, mas, na verdade, seguia o referido blogue não apenas pela amizade que me une à autora. Numa época em que o queixume parece ser o primeiro desporto nacional, este blogue era um exemplo de positividade e de persistência. Nunca ouvi a Rita queixar-se dos 400 km diários de curvas e contra-curvas que a separam do seu local de trabalho. Nunca ouvi a Rita insultar a ministra da educação ou criticar a avaliação dos professores. Sempre que ouvi a Rita falar do seu trabalho foi com um sorriso nos lábios e para se referir ao carinho que tem pelos alunos e colegas. “Alimentar” um blogue pode, no entanto, ser um jogo perigoso cujas regras nem sempre são entendidas da mesma forma por todas as par

Páscoa

Podem ter mudado os hábitos e algumas tradições, mas, no meu imaginário, a época pascal estará sempre associada à terra da minha mãe: ao Minho. Durante longos anos, a Páscoa foi passada em casa dos meus avós, em Darque, Viana do Castelo, e teve uma enorme magia. De véspera, madrugava-se para as grandes limpezas: tudo tinha de estar impecável para “receber o Senhor”! A minha avó, peixeira ambulante de profissão, aproveitava esta altura para fazer mais algum dinheiro e vender os doces tradicionais da Páscoa de porta em porta. Ainda tenho nas narinas o cheirinho a coco e a cobertura de açúcar! No dia de Páscoa, estreava-se roupa nova, primaveril, e enfeitava-se a soleira da porta com flores. A vila em peso ia para as ruelas dar as boas-vindas à Cruz! A dez casas de distância, a notícia chegava ao som das sinetas. A comitiva pascal, vestida a preceito, engrossava em cada casa: padre, ajudantes e afins, vizinhos, ajudantes e afins… Entravam e o momento solene e tão aguardado acontecia: beij

Indo eu, indo eu a caminho de… Lisboa!

O actual contexto económico arrastou consigo a indústria dos congressos. Há precisamente 3 meses que não voltava a Lisboa em trabalho. E, embora não me possa queixar de uma agenda vazia, a verdade é que a interpretação simultânea e tudo o que ela implica já me fazia falta. Fomos avisados por um professor na última aula do curso que a nossa vida não voltaria a ser a mesma: muitas viagens e alguns sacrifícios pessoais. Dos quinze finalistas daquele ano, sou a única que continua a exercer e, é verdade, a minha vida nunca mais foi a mesma. E embora tenha optado pelo dito “mercado nacional”, o facto de estar sedeada no interior fez de mim uma constante nómada. Os meus colegas de Lisboa costumam dizer que sou uma privilegiada por morar na “província” e vir com frequência a Lisboa. Acho que só há muito pouco tempo comecei a entender o significado dessas palavras e a dar-lhes razão… Afirmo com regozijo que, para mim, a planificação de um novo serviço de interpretação é sempre um grande acontec

Elis Regina e a “c√ℓš¥”

Adoro Elis Regina. Já tentei a “terapia de substituição” Maria Rita, reconheço-lhe o talento, mas, não há nada a fazer, prefiro a mãe. Desde Fascinação, que adoro cantar, passando por Sou caipira e O Bêbado e o Equilibrista, não há música da Elis de que eu não goste. A propósito do “contexto actual” (recuso-me a pronunciar/escrever a palavra e a ver a TVI), deixo-vos esta relíquia: um momento de boa disposição, no jeito muito sui generis do “furação Elis”. Deleitem-se com a letra e com a voz.

Reminiscências

Hoje, não sei porquê, comecei a trautear uma melodia antiga. Puxando pelas memórias, lá consegui reavivar todo o refrão. Mas onde raio fui buscar isto?! Sentei-me ao computador e comecei a pesquisar. Eis o resultado: Festival da Canção de 1984. Recordo aqueles tempos em que o Festival da Canção era o acontecimento do ano, principalmente para os que estavam fora do seu país.

Concerto da Susana Félix

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Assisti ontem a um concerto da Susana Félix, no TMG (Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda, provavelmente a melhor sala de espectáculos da Beira Interior). Foi a estreia da minha filhota Sara de 8 anos [- Tenho quase 9, mãe!] num concerto a sério. A cantora surpreendeu ao surgir no palco de saltos altos, vestidinho de alças sem costas e rabo-de-cavalo, numa pose de princesa. Mas, à segunda música, e bem ao seu estilo, já estava descalça e completamente solta. Envolvente! Envolvente, aquele timbre de menina, adocicado e quente. Envolventes, as letras que põem o dedo na ferida e que nos espelham. Envolvente, o diálogo constante com o público e a cumplicidade com os músicos (fantásticos, por sinal. Ai! Aquele trio de metais!...). Pulsação. 10 anos de carreira. Composição, arranjos, letras. Grande cantora portuguesa. Grande voz. Fiz ou não uma boa escolha para a estreia da Sarita?! Deixo-vos a foto da sessão de autógrafos e a música que, nas palavras da própria Susana, é a mais im

Sara Serpa: «A bright young Portuguese singer»

Fiquem atentos a este nome. Sara Serpa é a nova voz do quinteto liderado pelo grande saxofonista e Jazzman americano Greg Osby. Mais um “fenómeno” musical encontrado na Internet (uma visita de Greg Osby ao MySpace de Sara terá despoletado os contactos). Esta singular intérprete fez o Conservatório clássico de Lisboa, voou para os EUA onde estudou no Berklee College of Music e acabou por se fixar em Nova Iorque onde vai – palpita-me – ficar por alguns tempos… Ao ouvir o seu álbum de estreia “Praia”, não restam dúvidas de que se trata de uma interpretação singular e arrojada de Jazz – o vocalizo sem letra – simultaneamente criativa pela improvisação e tecnicamente exigente. Gostei.