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A mostrar mensagens de setembro, 2009

Coincidência

Saí de manhãzinha para uma maratona de palavras. A perspectiva de uma clausura forçada e de uma batalha contra o tempo pesa-me no rosto. Entro no carro, ligo a ignição, abro a janela: a brisa matinal refresca-me as ideias e a música que passa na rádio descontrai-me. A voz feminina embala-me até à prisão. O dia foi como esperava: sprints frenéticos no teclado, lutas contra o sono (cujo balanço anda deficitário…), o almoço comido à secretária… Episódios entremeados com pensamentos que me assaltam, pensamentos que decorrem de novos projectos, novas emoções… Até os olhos não aguentarem. Saio no finalzinho da tarde para o aconchego do lar. A perspectiva de umas horas longe do computador e de uma trégua às palavras alivia-me a tensão. Entro no carro, ligo a ignição, abro a janela: a brisa de um fim de tarde a lembrar Outubro refresca-me as ideias e a música – exactamente a mesma música! – embala-me até casa.

Amarras

Ultimamente, tenho-me afastado do porto. Intermitente… Vou e volto… Nesses episódios sem âncora, Flutuo, suspiro e sorrio. Abrando os meus rituais, Roçando o quase-desleixo; Não estico o cabelo, Libertando os meus jeitos naturais, Calço sabrinas, Dando descanso à minha postura, Esqueço-me da agenda, Quero lá saber… Logo se vê… E no caminho de regresso ao cais, Invade-me este contraditório sentimento de Paz, Completude… Procuro as amarras, Sem pressas… (Ana B., 13.09.09)

Poesia de outros de que gosto II

Quanto Mais Amada Mais Desisto De amor nada mais resta que um Outubro e quanto mais amada mais desisto: quanto mais tu me despes mais me cubro e quanto mais me escondo mais me avisto. E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, por fora te ajoelho, corpo místico. Não me acordes. Estou morta na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem. Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carne queres reter-me jovem. Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"