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A mostrar mensagens de novembro, 2013

Mila

Hoje, tive companhia até ao Entroncamento. Tem um nome impronunciável, com vários ípsilones e muitas sílabas, mas toda a gente a trata por Mila. Veio de São Tomé há 5 anos. É estudante de Enfermagem e trabalha à noite num Call Center. Já trabalhou nas limpezas e na restauração. Tem de fazer diretas para entregar trabalhos na Escola. Nos estágios hospitalares que vai fazendo, os utentes de que mais gosta são os velhotes: gosta de os ouvir e de negociar com eles as higienes e as refeições. Aos sábados à tarde vai dançar Kizomba ao Barreiro. Enjoa no cacilheiro, mas, quando lá chega, esquece-se tudo. Diz que o português “não vive” e é “bué stressado”. Em uma hora e meia não lhe ouvi uma queixa. Resgates e troikas não lhe devem dizer muito. Sempre sorridente. Linda. Não sei porquê, mas não consigo imaginar a Mila num serviço de geriatria dos Alpes Suíços, a dançar Kizomba na neve.

Terceiro encontro com o escritor

- Acredita que um escritor medíocre se pode transformar num bom escritor? - E o que é um bom escritor? - Um escritor que reúne consensos? - Consensos de quem? - Mas pode haver evolução na escrita… - Sim, mas será sempre paradoxal. A nossa escrita evolui deixando a descoberto os erros da escrita do passado, os erros de outros autores. Chega a ser perturbador. “Como pude escrever daquela maneira?!”. - É uma evolução que acompanha a evolução intelectual do próprio autor, suponho… - Não. Isso é ilusório. Evolui-se mais rapidamente na escrita. A escrita é, muitas vezes, a projeção codificada do que gostaríamos de ser. Somos melhores na escrita do que na vida real.