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A mostrar mensagens de maio, 2014

Mudança

Haverá partes de nós que nunca mudam? Ouvimos com frequência: “Tu não mudas mesmo!”, “Há coisas que não mudam…”, “Foste sempre assim!”, etc. Por norma, ouvimos essas falas num contexto pejorativo, como se não mudar fosse uma espécie de defeito… Gostamos todos de acreditar que somos seres evolutivos, a caminho de seres evoluídos. Por conseguinte, não gostamos muito de ouvir esses reparos e tomamo-los como uma crítica… Na verdade, são uma crítica… De igual modo, quando somos nós a proferi-los, fazemo-lo com o intuito da crítica, de apontar o defeito. Então, se temos todos mais ou menos consciência desses factos, porque não mudamos deveras? Uma possível resposta é porque estamos convencidos que estamos certos e que o outro é que está errado. E o que sustenta essa certeza? O que nos deixa convencidos de estarmos certos e o outro errado? Talvez o simples facto de não querermos mudar porque é mais fácil acreditar que a nossa posição está correta, porque mudar

Sequelas

A inconstância corrói. A incerteza vai deteriorando a superfície de uma força aparente. Num dia, damos por nós a pensar em todos os contornos do plano B, C, D… No que faremos, nas atitudes que tomaremos, nas posições que assumiremos. Noutro dia, investidos de uma positividade sem origem conhecida, achamos que tudo é um disparate, que tudo vamos vencer, que tudo vamos conquistar. Depois, há os dias assim-assim. Os que começam bem, mas durante os quais o desgaste e a impaciência se instalam. Ou o contrário: os dias que começam mal, mas que são gradualmente povoados por pequenas conquistas, pequenos sorrisos, pequenas palavras. Difícil também é gerir esta nossa fase negra em confronto com os outros. Aqueles que acham sempre que somos exagerado/as, que gravitam à nossa volta um milhão de pessoas mais desafortunadas, mais pobres, mais doentes, mais mal-amadas… Como se não soubéssemos… E fingimos que sim, que de facto é assim, mas continuamos, internamente, a destilar

Perguntas sem valor

Quero acreditar que tudo tem um propósito. Preciso acreditar que tudo tem um propósito. Tenho manipulado o corpo até à exaustão para apaziguar a mente. Para não lhe dar o tempo de se rebelar. Manipular a mente é tarefa para Eleitos e eu não nasci virada para a lua. Não me importa, contudo. Nunca gostei de linhas retas. A hiperatividade tem sido companheira e compreensiva. Quase dissipando o vácuo gerado pelos sonhos desfeitos e a desfazer-se. Ponho em causa tudo o que leio, tudo o que vejo, tudo o que ouço, como se numa plataforma à parte me tivessem plantado. Porquê? Valerá a pena perguntar? Não. Onde me perdi? Que desvios tomei para me trazerem aqui? Valerá a pena perguntar? Não. O Filósofo dizia que, sobre o que não sabemos, devemos calar. Acrescento que sobre o que não controlamos, devemos aceitar e calar. Qualquer reação ou tentativa de análise é cansativa, estéril. O que me move? Talvez a convicção de que um dia valha a pena per

Quinto encontro com o escritor

- No seu último romance, a personagem Hilário refere-se à desilusão da inconsistência. Já foi desiludido? - Há uma espécie de contradição, de não sentido nesse conceito… Mas as pessoas gostam de etiquetas. - Como assim? - Veja: acha mesmo que se pode falar de desilusão? Não é a inconsistência uma característica genuinamente humana? - Talvez… - Todos esperamos do outro que seja consistente, que esse outro proclame um valor e o ponha em prática. É sabido dos manuais de desenvolvimento pessoal que a consistência traz progresso, evolução… Praticamo-la? Até podemos pensar que sim, mas somos facilmente desviados dos nossos intentos. - Não temos, portanto, legitimidade para nos desiludirmos com as inconsistências dos outros, é isso? - Até certo ponto, sim. Se o outro proclama ser desapegado de bens materiais, mas faz apanágio do seu estatuto e pede um aumento de salário, se diz ser humilde e passa a vida a vangloriar-se dos seus feitos e sucessos, é natural que sintamos a desi

Tanto

Há tanto que fazer! Tanto que ler, que escrever. Tanto para arrumar, organizar, planificar. Tanto que observar, que apreciar. Tanto que ouvir, que explorar. Tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Tantos planos, tantos sonhos. Tantas músicas, tantas danças. Tantos cheiros, tantos sabores. Tantos filmes, tantos passeios. Tantas conversas, tantas partilhas. Tantos abraços, tantos beijos, tantos toques. Tanto, tanto, tanto!... De manhã, ao acordares, faz uma lista dos teus tantos. Prometes? Não deixes que se instalem nos interstícios dos teus tantos a tristeza e as memórias. Estas últimas, boas ou más, deixarão sempre um travo amargo, pela dor ou pela saudade. Decora a lista dos teus tantos. Faz dela o teu mantra sagrado. Prometes?