Águas de Março: Sobre Relações Humanas



“Com uma amiga chegamos a um tal ponto
de simplicidade ou liberdade que às vezes eu telefono
e ela responde: não estou com vontade de falar.
Então digo até logo e vou fazer outra coisa.”
Clarice Lispector


Acho que nunca tinha dissertado muito sobre este assunto. Na verdade, penso até que, de alguma forma, sempre foi para mim um tema tabu…
Cresci numa família próspera em conflitos familiares, o que me fez persistir na vontade de querer fazer diferente.
No entanto, nestes últimos 6 meses em que estive ausente por cá, este tema tem-me ocupado os neurónios…
Talvez porque foram meses de algumas mudanças e as mudanças trazem sempre consigo algumas verdades sobre a natureza humana. Fazer escolhas em prol do nosso bem-estar implica sempre deixarmos algumas pessoas pelo caminho ou que estas saiam de livre vontade.
Ainda não percebi porquê, mas lido mal com essas saídas, como se essas pessoas, mesmo que me tenham magoado, ao saírem, levassem consigo uma parte da minha história e do que sou.
Por outro lado, assumi algumas funções de liderança que me deram mais visibilidade do que eu poderia esperar ou querer, e isso colocou-me numa rápida engrenagem de aprendizagem sobre conceitos como “não se agrada a Gregos e Troianos”, “invejazinha de galinheiro”, “ingratidão” e outros afins… A vida: a melhor escola de todas.
Também aprendi nos últimos tempos – espanto-me! – que tenho um jeito incrível para ajudar a solucionar os problemas dos outros, que não sei dizer não e que, por isso, não tenho jeito nenhum para resolver os meus…
Uma parte desse jeito vem da frontalidade com que digo o que penso, sem máscaras ou eufemismos. Nem todos apreciam, mas se o/a titular do problema me der algum crédito enquanto ser humano, acabo por acertar no alvo e ajudar a aliviar a carga do/a meu/minha interlocutor/a.
E, no fundo, julgo que é exatamente essa faculdade que faz das relações humanas relações de qualidade: podermos dizer exatamente o que pensamos e como nos sentimos, e a outra pessoa virar a página, como se nada fosse.

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