Cabine fotográfica



Lembras-te da máquina fotográfica do Dallas?
Íamos para lá aos domingos à tarde com as moedas retiras à curta semanada e divertíamo-nos à grande.
Parece que estou a vê-la, a pequena cabine de 1 metro quadrado, com uma cortina bege e, no interior, um pequeno banco de estrutura metálica e tampo de madeira, igual ao que havia no centro de saúde, quando íamos fazer o Raio X para a matrícula da escola.
Enquanto as outras miúdas do bairro iam para o quiosque folhear as revistas das celebridades e dos resumos dos episódios das telenovelas brasileiras, nós íamos para a máquina e encenávamos as melhores poses.
Para nós, tudo aquilo era mágico, dos minutos de espera até que a máquina ficasse livre, ao momento em que podíamos finalmente pegar e tocar naquelas tiras de instantes.
Tudo era combinado ao pormenor: a mesma cor da parte de cima da roupa, o penteado, o destino do olhar.
Aliás, pergunto-me até hoje porque combinávamos a cor da camisola, já que as fotos saiam a preto e branco.
Queríamos parecer irmãs, imortalizar a semelhança e a cumplicidade.
Mas onde raio se meteram essas fotos? Ficaste com algumas?
Deveria ser proibido arrumar gavetas e deitar fora fotos antigas.
Hoje teria sido tão fácil reproduzi-las…
Apercebo-me agora que aquela máquina era, no fundo, o antepassado daquilo a que hoje as nossas filhas chamam de selfie. Ninguém por trás a comandar poses, a enquadrar ou a pedir sorrisos. Nós e só nós, a nosso bel-prazer.

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