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A mostrar mensagens de dezembro, 2017

Sobre Esquecimento e Perdão

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Do último livro de Tolentino Mendonça poderia destacar várias passagens. Os seus escritos interpelam-me sempre de forma avassaladora. Gosto da nudez, da humildade, das referências literárias e cinematográficas que me levam mais longe. Contudo, é sobre esta citação do autor que eu gostaria de refletir hoje: “O gesto de esquecer e de deixar para trás também é uma decisão espiritual necessária. Há um passado que condena e, se não nos distanciarmos dele, se não dermos o salto que a fé nos pede, não seremos capazes de recomeçar.” Independentemente do teor do que temos ou queremos esquecer, concordo que seja uma decisão espiritual útil. Espiritual porque deve partir de nosso âmago, sem intromissões, sob pena de se transformar em mais uma tentativa frustrada. Necessária porque se impõe uma depuração, uma higiene emocional que, se não for feita amiúde, nos polui e embarga a existência. O passado deve ser aquele filme a preto e branco que apenas revisitamos para lembrar mensag

Conto de Natal dos Tempos Modernos, Sem Avareza e Rituais Americanos

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Ele. Gostava da sétima arte e colecionava os DVD dos seus filmes e séries de culto. Nunca pirateados. Só dos que traziam o selo da IGAC. Opunha-se a cópias e imitações, e ordenava as caixas em várias estantes, por géneros e pela ordem das suas preferências. Sabia de cor diálogos e tinha vívidos na memória cenários, cenas e bandas sonoras. Reificava realizadores, atores e atrizes. Tratamento equivalente era aplicado à sua música. Esta escrupulosamente categorizada em ficheiros do seu PC, no qual ninguém podia entrar, não se fosse apagar algo acidentalmente. Cada escolha tinha uma história motivada, um sentimento associado, uma sensação refletida. Os seus sonhos de vida eram de concertos intimistas, os seus heróis eram cantores desconhecidos do grande público, sobre os quais tudo sabia. Era organizado, meticuloso e apreciava o rigor das coisas simples. Ela. Era completamente obcecada por livros. Já não tinha lugar para eles, mas continuava a adquiri-los. Nem

Imortal

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Brumas de esquecimento, gigantes adormecidos, ogres, duendes, dragões, rituais de passagem para a outra margem de um rio baseados no amor incondicional… Não, este tipo de história não faz o meu género. Contudo, como sempre faço com a literatura de ficção, concedo sempre o benefício da dúvida (sobretudo quando se trata de um Nobel), invisto tempo e paciência, procuro algo a que me possa agarrar. No caso deste livro de Ishiguro, nem foi necessário o esforço. Apesar do cariz fantástico, a coluna vertebral da história construída sobre a viagem de Axl e Beatrice à procura de um filho vale por si só. Embrenhei-me completamente nesta história de amor, porventura das mais puras e íntegras que alguma vez li. Para que servem, afinal, as lembranças? Serão efetivamente necessárias para construir o que somos? Não poderão os sentimentos que nutrimos por um/a companheiro/a de vida bastar à nossa felicidade? É possível amar até à morte, mesmo sem memórias? É enternecedor e