Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2018

10 anos de Vozes Femininas!

Imagem
Há dias, este meu blogue fez 10 anos. Apetece-me hoje refletir sobre o seu percurso, sobre o que me trouxe, sobre o que poderá vir a ser. Há 10 anos, era quase um ato de coragem ter (e manter) um blogue; existiam pré-requisitos tácitos (escrever bem era um deles). Há 10 anos as redes sociais davam ainda os seus primeiros passos e ainda ninguém era adicto na arte de expor uma vida perfeita por frases feitas e fotografias de instantes. Escrevia-se. E chegava-se ao fim de semana com aquela vontade quase pueril de “ir visitar aqueles blogues giros” que nos diziam alguma coisa. Afirmo-o: foi um ato de coragem criar o Vozes Femininas. Não me sentia à altura do tal pré-requisito, à altura do que lia nos tais outros “blogues giros”. Fui encorajada por duas amigas (que achavam que eu preenchia o tal pré-requisito) e pelas aulas de escrita criativa que desembocaram no meu primeiro conto publicado em coletânea, o Retratos a Sépia. Mas, devo dizê-lo, foi um percurso tateante, insegu

Diálogo com o irmão que não tive (III)

Imagem
“As perguntas deixam-nos mais perto do sentido.” José Tolentino Mendonça in O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas - Há outras formas de ser feliz. Não tens de provar nada a ninguém e ele já cá não está para as cobranças. Além disso, achas que ele foi feliz? - Sei o que pretendes com todas essas perguntas: chamar-me à razão, mostrar-me outra direção… No fundo, dizer-me – à tua maneira – que tenho outro caminho, que sou melhor do que ele. [longo silêncio] - Mas tu não existes: és o irmão que gostava de ter tido, mas não tive, o amigo que criei desde pequena para encher a minha solidão de conversas fictícias quando os livros não chegavam, a amiga das confidências quando todas as outras, as reais, partiram para construir a família que nunca tive, o amante terno que ouve sem fundo e que oferece o peito no qual pouso a cabeça na almofada, ou, como se diz agora, o guia espiritual… - Enganas-te. Existo. Sou a pergunta. FIM (de uma história que nunca terá fim)

Diálogo com o irmão que não tive (II)

Imagem
« Tout l'or des hommes ne vaut plus rien, si tu es loin de moi  » - Crescemos com medo dele. As deferências que lhe eram dispensadas resultavam do seu caráter rígido e inflexível. Nem sempre advinham do reconhecimento ou do respeito. És muito diferente. - Hoje penso que lhe quis mostrar que era possível chegar lá por outro caminho, dando espaço aos outros. Mas não fui bem sucedida. - Não foste? - Vivi rodeada de homens dominantes, que subjugavam a seu bel-prazer. Não deveriam eles ser as minhas influências? - Ou, pelo contrário, aquilo de que foges. Repito: és muito diferente. - Fui à arca da herança buscar o que me convinha? - Porque não? Não é a isso que chamam de livre arbítrio? - Perspetiva animadora…

Diálogo com o irmão que não tive (I)

Imagem
- Sempre disseste que não querias ser como ele. - E sou? - Não exatamente. Mas tens dele. - O quê? - A força, a perseverança, o espírito de líder… - E isso é mau? - Não. Mas também tens a inflexibilidade, a intempestividade, o lado depressivo… - Pois… - Pois… Mas és diferente. Não existem duas pessoas iguais. A tua história é diferente. Tiveste acesso a outras portas, leste, ouviste, ensinaste. És mais afável, mais flexível, mais tímida… - Curioso… Passei a vida a fugir do que ele era e hoje gostava de ter a vida que ele teve… - A parte final da vida dele, queres tu dizer. - A que chegou pelo percurso que fez, por um passado que questionei muitas vezes. - Questionaste o feitio, a personalidade difícil, a severidade. - Na verdade, passei a vida a querer imitá-lo… - Imitar sem querer ser? - Imitar os resultados sem utilizar os mesmos meios… Daí o fracasso… - Achas que fracassaste? Falas como se a tua vida estivesse na reta final. - Em toda a linha. El