Diálogo com o irmão que não tive (III)
“As perguntas deixam-nos mais perto do
sentido.”
José Tolentino Mendonça in O Pequeno
Caminho das Grandes Perguntas
- Há outras formas de ser feliz. Não tens de provar nada a
ninguém e ele já cá não está para as cobranças. Além disso, achas que ele foi
feliz?
- Sei o que pretendes com todas essas perguntas: chamar-me à
razão, mostrar-me outra direção… No fundo, dizer-me – à tua maneira – que tenho
outro caminho, que sou melhor do que ele.
[longo silêncio]
- Mas tu não existes: és o irmão que gostava de ter tido,
mas não tive, o amigo que criei desde pequena para encher a minha solidão de
conversas fictícias quando os livros não chegavam, a amiga das confidências
quando todas as outras, as reais, partiram para construir a família que nunca
tive, o amante terno que ouve sem fundo e que oferece o peito no qual pouso a
cabeça na almofada, ou, como se diz agora, o guia espiritual…
- Enganas-te. Existo. Sou a pergunta.
FIM
(de uma história que nunca terá fim)
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