Óleo de Cedro
Voltei hoje àquela praia após quinze anos. Assim que pus o primeiro pé na areia e a minha vista alcançou as barraquinhas, lembrei-me logo dela. Éramos vizinhos de praia. Reservávamos as barracas de um ano para o outro para conseguir os melhores lugares. Apesar de um ano inteiro sem contacto, sabíamos que, logo no primeiro dia, a menina Idalina - Lina para os amigos - lá estaria. Chegávamos por volta das nove e meia, eu, a minha mãe a minha irmã. Hei-de morrer sem ter visto o meu pai pisar a areia e ir ao mar. Quando chegávamos, a Lina já lá estava: - Gosto dos primeiros movimentos na praia – Dizia ela. Embora bastante mais novo, acho que tinha uma paixoneta pela Lina. Fingia não prestar atenção àquela “conversa de mulheres”, mas sorvia cada comentário, cada máxima, cada ritual, cada cheiro. Vinha sempre sozinha, nunca falou muito do resto da sua vida e dos restantes onze meses do ano. Essencialmente, “trabalhava para o bronze”: ia ao mar em linha quase recta, não fosse pelas ...