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A mostrar mensagens de outubro, 2020

O Sentido de um Fim

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(título descaradamente roubado ao Julian Barnes porque nenhum outro seria tão bom) Diz-se que, com este contexto pandémico, as depressões vão aumentar. Também vão aumentar as falências, a taxa de desemprego, a violência doméstica, os suicídios... Estes aumentos são proporcionais à diminuição do propósito de vida: quanto menos objetivos temos, maior é a probabilidade de engrossarmos as listas acima. Bom, na verdade, as coisas da vida nunca são tão matematicamente lineares, mas gostamos de lhes dar esses contornos racionais, de colocar designações e números em quase tudo. O que quero mesmo é abordar a questão do propósito. Algumas pessoas parecem ter uma espécie de propensão genética para renascer das cinzas. Os palcos dos oradores motivacionais estão cheios destas fénices – que, por definição, são “aves raras” - sobreviventes que fizeram das suas desgraças as suas vitórias. Há também o oposto das fénices, as cassandras, que passam a vida a anunciar desgraças, mas nunca são ouvidas por f

Pretérito Imperfeito

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Começo a dar-me conta dos estragos. No epicentro da quarentena, armei-me em forte, ocupei os neurónios ao máximo e não me apercebi do mal que me infligia. Começo agora a tomar consciência de algumas sequelas. Com a pandemia, tive de abdicar de duas das atividades de que mais gostava. Ambas tinham alguns pontos em comum que, hoje, constituem perdas. Essas duas atividades tinham o benefício de me conseguir desconectar do mundo empresarial e de todos os problemas a este associados. Eram, também, atividades com uma forte componente relacional (embora em mundos bem distintos) que me garantiam a quota de “vida social” necessária a uma sã sobrevivência. Nos primeiros tempos, desdramatizei essas perdas, tentando agarrar-me aos aspetos positivos: o tempo e o dinheiro libertados, as viagens (com o desgaste associado) que deixaram de se fazer, etc., etc.. Hoje, alguns meses volvidos, ficam bem visíveis as perdas... O outro estrago tem a ver com a tal ocupação excessiva de neurónios. O ser humano