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A mostrar mensagens de maio, 2023

Diário de uma solteirona de férias | Dias 8 e 9

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Dia 8  O Dia começou calmo. Tomei o pequeno-almoço, meditei e dei um jeito à casa. Quando estava a regressar à minha cidade, liguei ao J. Fazia anos e quis ouvir a voz dele. Temos trocado mensagens desde que ele saiu da empresa, em abril, mas, que caramba, trabalhou comigo 11 anos, merece uma chamada telefónica. Gostei. Achei-o com uma voz alegre e firme. Ou será, simplesmente, voz de aniversariante? Entretanto, começou a chover torrencialmente. Pensei para os meus botões: “é só eu voltar para esta terra e volta o mau tempo…” Passei em casa, estive um pouco com a minha filha matei saudades dos gatos. Lá fui para o meu jantar surpresa. Esperavam-me duas e não foram boas… Depois de tantos dias de silêncio, começo a ter uma nova crise… Mais leve do que a anterior, mas uma crise. Senti-a chegar. Mas que raio! Apenas comi carne grelhada e salada! Nem toquei nas sobremesas. O que a terá despoletado?… Penso nisto quando recebo uma mensagem, por volta da uma da manhã, preparava-me para regress

Diário de uma solteirona de férias | Dia 7

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  Foi um dia tranquilo. Os meus pais chegaram um pouco antes do almoço. Fomos ao franguinho da guia. O meu pai foi pescar um pouco e eu fui caminhar com a minha mãe. Tomámos café numa esplanada, jogámos o Euromilhões e eu confirmei a minha total ignorância nesta prática. Por cá, o tempo ameaçou mas aguentou-se. Quando os meus pais chegaram a casa, disseram estar lá um temporal. Fico por cá até amanhã. Regresso depois do almoço a casa. Tenho um jantar “surpresa” à minha espera.   Tenho feito um esforço para não pensar na semana que lá vem, mas, à medida que a segunda-feira se aproxima, é inevitável. Começo a fazer balanços e a gostar dos resultados. Domingo, escrevo o relatório final. Aliás, “escrever” é, sem dúvida, uma das boas coisas que estas férias me trouxeram. Hoje, será um serão de leitura. Tenho gostado de estar ao meu lado.

Diário de uma solteirona de férias | Dia 6

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  Lá me despedi de Peniche e rumei novamente para Oeste. Como combinado há já alguns dias, era aguardada para um brunch. Que maravilha! Adoro este casal! Vivem um para o outro. Não têm filhos humanos. Têm o gatinho N. que é uma personagem; anda com eles para todo o lado. O L. e a S. têm uma caravana e gostam de viajar. O N. também e vai deitado no tablier. Eles também gostam de grandes caminhadas e lá vai o patudito com eles, instalado aos ombros ora de um, ora de outro. Falámos do nosso amor pelos animais. Desabafei as minhas perdas recentes. Falámos de saúde e bem-estar, de nutrição. Estaria ali com eles o dia todo. Enquanto subia para Norte, pensava que este casal é a prova de que é possível ter uma relação bem-sucedida e feliz, em permanência. Se eu estivesse a dizer isto à minha filha, ela responder-me-ia: “Mão, nem tudo é o que parece…”   Neste caso, quero acreditar que sim. Que este casal parece feliz e é, de facto, feliz. Cheguei à Barra a meio da tarde, com um tempo maravilhos

Diário de uma solteirona de férias | Dia 5

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C omo previ, hoje foi um dia mais tranquilo. De manhã, coordenei a reunião de empresários e correu lindamente. 53 pessoas em sala, 1 nova candidatura (vamos chegar aos 35 membros!), elogios vários… A seguir, dormi um pouco, pois deitei-me tarde ontem e já não tenho idade para isso… Fomos fotografar o pôr do sol e acabámos por ir jantar tarde. Foi muito agradável. Depois, passei uma boa hora no SPA. Fiz 10 x 2 piscinas (grandes!). Ah! E tenho meditado todos os dias, quase me esquecia de dizer. Estou orgulhosa da forma como tenho dedicado tempo ao meu corpo e à minha mente, cuidando de mim. Almocei. Dormi mais um pouco e fui à praia. Temperatura ambiente e humana ideal. Fui jantar com a M. Mais um jantar fantástico! Longas conversas, gargalhadas, memórias. Brindámos à Tina Turner. Gosto genuinamente da M. porque é genuína. Passo a redundância. Amanhã, despeço-me de Peniche. Faço checkout e vou almoçar com um casal de amigos a 50 km daqui. À tarde, rumo para a minha praia habitual, para a

Diário de uma solteirona de férias | Dia 4

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A superação começa sempre com pequenos passos. A minha começou hoje com uma travessia de barco. “Abra a janela”, “Olhe para o horizonte”, “Para cá é mais fácil”… Quando comecei a ver terra, a Estela, uma das ilhas desertas, foquei-me nela. Se valeu a pena? Sim, valeu! A Berlenga é indescritivelmente bela e misteriosa. Comprei o pacote completo: rota pedestre com guia - o Tobias, uma personagem! - a visita ao forte, a visita às grutas no barco com fundo de vidro…   Colei-me a duas irmãs cinquentonas de Aveiro. Adoráveis. Ficámos amigas. Uma delas ensinou-me a programar a Canon para as fotos ao longe. Enquanto esperávamos pelo barco, na praia, o nó na garganta voltou. Decidi que estou farta de estar sozinha. Não tem piada nenhuma… Não mentiram: a viagem de regresso foi mais tranquila, graças a S. João Batista, o suposto padroeiro da Berlenga. De regresso ao hotel, preparei a reunião de amanhã (sim, abri um parêntese nas minhas férias para os meus empresários…). Não pode falhar nada. Entr

Diário de uma solteirona de férias | Dia 3

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Já consigo acordar um pouco mais tarde do que o habitual. É uma conquista. Passei a primeira hora da manhã a responder a emails.     Estava a preparar-me para ir ao ginásio do hotel quando me deparo com um bicho enorme pousado numa das minhas sapatilhas... Tinha o tamanho de uma noz... Ia desmaiando. Corri para o corredor e encontrei uma rapariga que estava a arrumar um quarto ao lado do meu. Pedi ajuda, mas ela não falava português. Arrastei-a para o meu quarto. Quando viu o bicho, começou a rir-se e, tranquila, pegou num daqueles copos de lavar os dentes e num saco de plástico que enfiou na mão e, zás, capturou o dito cujo. Passei a ser fã dela. Já passei por ela duas vezes depois deste episódio matinal e faço-lhe uma enorme vénia e ofereço-he um grande sorriso.   Lá fiz o meu treino, descansada. Hoje, trabalhei braços e costas. Correu bem. A tendinite parece estar a dar-me um descanso.   Como combinado, fui almoçar com a minha amiga que vive aqui em Peniche. O almoço foi fantástico

Diário de uma solteirona de férias | Dia 2

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Acordei às 3 da manhã a pensar no relatório dos consultores e no tanto que tenho para fazer nas empresas. Tenho de combater esses pensamentos sob pena de arruinar as minhas férias… Tenho de confiar na minha M.   Nunca a vi tão entusiasmada e a falar tanto como nas reuniões com os consultores; tenho de me agarrar a esse entusiasmo e passar-lhe as rédeas, pelo menos, durante esta semana. Esta manhã, fiz uma longa caminhada fotográfica   pela marginal. Estou a gostar. É tudo novo para mim. É tudo descoberta. Não estou com cabeça para ressignificações. Pelo menos, por agora. Queria ir até ao Cabo Carvoeiro, mas apercebi-me que era longe para ir sozinha. Resolvi então explorar o centro da cidade, conhecer a Fortaleza e pedir informações sobre a travessia para as Berlengas. Parece que terça-feira é um bom dia. Pouca ondulação… Almocei junto ao Cais de Embarque. Vegetariano. Continuo sem apetite. Eu, sem apetite, ou o meu corpo a pedir-me para não o sobrecarregar. A minha mãe tem enviado mens

Diário de uma solteirona de férias | Dia 1

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  “When you get tired, learn to rest not to quit” – Banksy   O dia começa bem. Depois de fazer check-out e de devolver a chave do quarto pendurada num porta-chaves com tentáculos de polvo, meti-me ao caminho. E que caminho!… 30 km na Nacional 115, sem emergência. Que lindo! Vinhas a perder de vista, a lembrar-me a Aquitânia da minha França. Parei duas vezes para tirar fotos, deslumbrada!   Eu a parar numa nacional em êxtase! O meu mundo está de pernas para o ar… Volterei ao Oeste. Como sempre, fui a primeira a chegar. Estacionei no local combinado para o encontro do grupo e fui explorar a localidade e tomar café. Foi um dia como o imaginei: solto e leve, apesar da dura caminhada. Paisagens magníficas, um convívio fluído e divertido, algum networking, conversas enriquecedoras. Como gosto deste grupo! E como me faz sentir bem! Tem sido uma das minhas terapias liderá-lo e descobrir que estou à altura de o fazer. Finalizámos com um piquenique principesco que deve ter contribuído para ating

Diário de uma solteirona de férias | Dia 0

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  Acabo de chegar ao hotel. É um hotel de transição, para ficar mais próxima do ponto de partida da rota de amanhã. Daqueles hotéis temáticos engraçados. Estou num quarto designado de 007 e a decoração é composta de polvos... Podia ser pior. Depois da caminhada de amanhã, irei para o meu destino de férias.   Já constatei um avanço quanto a viagens: nas últimas semanas, tenho viajado tanto de carro, que já não me custa. Vou fazendo as minhas paragens, ouvindo os meus podcasts e a minha música, fazendo reuniões telefónicas.   Depois da viagem de hoje, quase sempre ao telefone, cheguei ao meu destino na capital e coordenei a reunião que havia para coordenar. Correu bem. Houve avanços, entusiasmo, motivação.   Agora, sim, estou de férias! Pela primeira vez, no meu meio-século de existência, estou de férias sozinha. Contra tudo e contra todos, estou de férias sozinha. Como diz o povo, há sempre uma primeira vez para tudo. “Má ideia”, “porquê?”, “mais valia ficar por cá”, “e se te acontece a

Liberdade Não Condicional

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Santarém, 14 de maio de 2023  Reabro hoje esta porta. Agredi. Fui agredida. Cumpri a minha pena. Saio, hoje, em liberdade não condicional. Numa fração de segundos, as sinapses que estavam adormecidas estabeleceram a ligação e tudo ficou claro. Claro como a água daquele lago. Nada acontece por acaso, diz o povo hoje. Não fui ali por acaso. Tinha de ver, com os meus próprios olhos. Ver o que não queria ver, mas tinha de ver.  Reabro hoje esta porta. Já não há motivo algum para estar fechada. Nada temo. Nada tenho a esconder. Nada escondi. Abro-a, bem aberta. Cumpri a minha pena. Estou em liberdade não condicional. Café Avenida, 14/05/2023, 9h10