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A mostrar mensagens de 2022

O Apartamento

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  A Marta queria vir comigo. Disse-lhe que não, que tinha de ir sozinha. Subi os três lanços de escadas, rodei a chave 4 vezes e mergulhei na penumbra. Instintivamente, procurei o interruptor na parede, carreguei... nada. Era óbvio que a eletricidade tinha sido cortada. Apesar dos anos, ainda tinha fresco o mapa mental daquele apartamento. Se fosse em frente, encontraria a sala de jantar; teria de ir até ao fundo para chegar à janela e abrir a persiana. Fui às apalpadelas, pelo lado direito. Nem me lembrei da lanterna do telemóvel. Encontrei o que queria. Tive de fazer uma certa força na correia da persiana que estava emperrada. O sol de setembro agrediu-me as vistas recém-habituadas à escuridão. A sala estava igual: o móvel de sala gigante, repleto de cristais e dos livros do meu tio, a mesa e as 6 cadeiras pesadonas de madeira escura. Voltei ao corredor, agora com alguma luz, e passei à cozinha. Fiz o mesmo procedimento de abertura de persianas e de reconhecimento do local. Seguiu-se

Delete

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Há algumas semanas, teria sido incapaz de escrever o que vou escrever a seguir. Foi Jamil Albuquerque que me inspirou a fazê-lo. Estou a terminar um dos seus livros e, a dado momento, o Presidente do MasterMind Brasil fala do poder da escrita e insta-nos a escrever o que queremos transformar. Ora, aqui estou.   Hoje, vou falar de relações humanas.   Mais especificamente das transformações que estas sofrem...   Nos últimos tempos, foram várias as pessoas que me eliminaram das redes sociais. Não é nada de extraordinário, mas leva-me a várias reflexões.   Tenho sido algo cautelosa no uso que faço das mesmas e, no cômputo geral, uso-as para partilhar conhecimento e para me promover profissionalmente. Ora, neste último capítulo, tenho sido bastante bem-sucedida, o que, aparentemente, irrita algumas almas. Poderiam deixar de me seguir (recurso que utilizo amiúde), mas, não... Delete!   A outra tipologia de carrascos são do sexo masculino e eliminam-me a antever uma eliminação minha. São mais

Tímida e pacata

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Há dias, em “conversa” com uma colega de faculdade que já não vejo há mais de 20 anos, recebi um enorme elogio. Passo a citar:   “Já agora felicito-te pela pessoa que és! Sempre te admirei; de forma tímida e pacata, és um exemplo de Mulher, de Ser Humano para a sociedade!”   Para mim, o elogio está nos adjetivos “tímida” e “pacata”. Fiquei feliz por alguém se ter dado conta da minha verdadeira essência.   Mais do que alguém supostamente admirável, sou, acima de tudo... tímida e pacata.   Tanto na esfera pessoal, como na esfera profissional, tenho esta persistente sensação de que as pessoas me vêem como alguém inatingível, imperturbável e forte.   Nada está mais errado. Não sou inatingível, nem imperturbável e muito menos forte. Tenho outras características não elencadas, mas essas não. Tenho falhado redondamente nas mensagens que transmito sobre mim e receio que já nada possa fazer para mudar esse estado de coisas.   Como eu gostava que as pessoas me vissem como, simplesmente, uma pess

Audição Seletiva

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  - Em 30 anos de carreira, este é o segundo caso que me aparece... Proferia a sua sentença, enquanto apontava alternadamente com o indicador direito para as depressões de 2 gráficos contíguos. Explicou-lhe, trocando por miúdos e abstendo-se da utilização de jargão técnico,   que não ouviria mais naquela frequência específica. Era irreversível. Às perguntas “trabalhou em ambiente fabril” e “há algum caso na família” respondeu negativamente. Saiu do consultório com uma receita mínima e a instrução de lá voltar dentro de 6 meses “para ver se a coisa não se agrava”. O percurso até ao carro pareceu-lhe interminável. O veículo estava estacionado perto de uma zona de obras, mas, por sugestão, nada ouviu. Estava, como muitas vezes estava, metida no seu silêncio. O que teria provocado aquilo? Poderia a perda auditiva resultar de um choque emocional? Teria uma audição seletiva? Porquê? Lembrou-se dos muitos problemas de ouvidos na infância, dos gritos, de não gostar de barulho e de discussões.

Macabeus

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No ano 150, Judas cercou a cidadela de Jerusalém. Mandou construir catapultas e outras máquinas de guerra para dizimar os judeus. Alguns dos sitiados conseguiram romper o cerco e dirigiram-se ao Rei. - Sempre te fomos fiéis e te servimos obedecendo a todas as tuas ordens e às do teu pai. Se não tomas a dianteira, farão ainda piores males e não os poderás dominar. * Nesse dia, Mariana tinha tomado café com a Fernanda. Em poucos minutos, todo o seu desespero veio à tona. Fernanda escutou, de semblante carregado. - Sinto-me no meio do deserto, Amiga. Perdida. - Por amor de Deus, Mariana, faz o que te digo: chegas a casa, ajoelhas-te e pede-Lhe! Pede-Lhe que te oriente! Abre a Bíblia ao calhas e lê: lá encontrarás a tua resposta! Mariana chegou a casa e distraiu-se com os afazeres do jantar. Jantou e ainda pôs uma máquina a lavar roupa. Só quando se sentou no sofá para, finalmente, descansar, se lembrou da Fernanda. Como gostaria de ter aquela fé! Como gostaria de olhar para o futuro com a

Conto Futurista

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Enquanto Copywriter, escrevo diariamente com propósitos bem definidos. Na maioria das vezes, esses propósitos giram em torno da promoção de uma marca. Escrevo para valorizar, persuadir e vender. Regra geral, em 99% das vezes, escrevo não-ficção. No final do ano passado (2021), um cliente pediu-me um conto de Natal. Um conto que, obviamente, em última análise, valorizasse o seu produto, ou seja, infusões. Grande dilema... Sempre pensei não ser capaz de escrever ficção por encomenda. E a ficção que escrevo está reservada a este espaço. Andei semanas, várias, a maturar um fio condutor. Saiu-me isto. Partilho-o fora de data, mas, como diz a sabedoria popular, o Natal é quando um homem quiser. É? Infusões 2048   Afternoon Tea por William H. Margetson