Delete

Há algumas semanas, teria sido incapaz de escrever o que vou escrever a seguir.

Foi Jamil Albuquerque que me inspirou a fazê-lo. Estou a terminar um dos seus livros e, a dado momento, o Presidente do MasterMind Brasil fala do poder da escrita e insta-nos a escrever o que queremos transformar. Ora, aqui estou.

 

Hoje, vou falar de relações humanas. 

Mais especificamente das transformações que estas sofrem...

 

Nos últimos tempos, foram várias as pessoas que me eliminaram das redes sociais. Não é nada de extraordinário, mas leva-me a várias reflexões.

 

Tenho sido algo cautelosa no uso que faço das mesmas e, no cômputo geral, uso-as para partilhar conhecimento e para me promover profissionalmente. Ora, neste último capítulo, tenho sido bastante bem-sucedida, o que, aparentemente, irrita algumas almas. Poderiam deixar de me seguir (recurso que utilizo amiúde), mas, não... Delete!

 

A outra tipologia de carrascos são do sexo masculino e eliminam-me a antever uma eliminação minha. São mais rápidos... Sim, ainda há uma categoria de homens que acha que consegue seduzir uma mulher com meia-dúzia de elogios bacocos... Quando percebem que, do outro lado, a pessoa está à beira do vómito... Delete!

 

Ora, se estes dois primeiros grupos de pessoas me fazem rir, o mesmo não posso dizer do terceiro. Este último grupo de pessoas deixa-me triste, desarmada e descrente. Já lá voltarei.

 

Estou a acompanhar de perto a separação de uma pessoa que me é próxima; aquele irmão mais novo que poderia ter tido, mas não tive. Tenho falado diariamente com ele; com um monte de destroços... Estou a assistir em direto às sequelas contundentes de uma rutura. Obviamente que sei bem o que isso é, mas, uma coisa é a perspetiva de dentro para fora, outra coisa, a perspetiva de fora para dentro... 

 

Se vou buscar esta história é porque ela ilustra bem a dita transformação das relações humanas; do amor arrebatador à frase mortífera “já não sinto nada por ti”; das férias em locais exóticos à tirada “estou envolvido emocionalmente com outra pessoa” e a lista poderia continuar: tenho ouvido muitas histórias ultimamente... Já o disse noutro texto: de bestial a besta...

 

E depois há o que se passa nas nossas costas, o que se diz de nós quando tudo acaba, o rancor que se transmite aos que nos são próximos, a vitimização que nos auto-infligimos na presença dos outros. A capacidade de preservar as boas memórias de uma relação perante terceiros (mesmo que, por dentro, estejamos um caco) dita a nossa integridade. O que dizer quando somos eliminados (mais 1 delete...) pelas pessoas mais próximas de alguém que amamos?

 

Eu respondo: a mensagem que se passa é clara, é a certidão de óbito de um sonho, é o descrédito das palavras elogiosas, é o roçar do desequilíbrio.

 

Apesar da enorme tristeza que me invade, sinto algum orgulho. O orgulho de quem se mantém firme, de quem não desconstrói a perceção dos outros, de quem, apesar de tudo, se agarra a um sentimento doce.

 

Delete...

Na verdade, não há nada nem ninguém que eu queira apagar. A minha vida, como a dos outros, é a soma de todas as memórias, boas ou más. Cabe-me a mim transformar as más em aprendizagens, em exemplos, em resultados positivos, em combustível.

Cabe-me a mim, como aos outros, fazer a leitura dos meus/seus fracassos e apurar as minhas/suas responsabilidades.

 

O universo encarrega-se sempre de compensar as nossas perdas, desde que não lhe fechemos a porta e a minha está bem aberta. Aberta à evolução, ao crescimento, à descoberta de mim mesma e do outro.

 

O Jamil tem razão: o ato de escrever transforma o nosso desejo e, neste momento, o meu desejo é maior! 



 

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