Linha Azul
Atravesso a espaçosa sala das bilheteiras, saio para a rua. Dou de caras com um grupo de 4 muçulmanos ajoelhados e virados para Meca. É o Ichá, dirão os entendidos.
Procuro o início da fila dos táxis. Parece que passou a ser perigoso apanhar Ubers à noite e, assim, não tenho de esperar e de tentar decifrar marcas de carros e matrículas ao longe. A visão já não ajuda.
Entro. O meu motorista é brasileiro e não sabe onde fica o bairro de Pedralvas. “Meta Benfica no GPS. Havemos de nos desenrascar”. Desenrascamos.
De manhã, chamo um Uber. A praça de táxis ainda é longe e, de dia, o risco é menor. Lá vem o Edemilson. Brasileiro. A conduzir um carro manifestamente pequeno para o seu tamanho. Desconfortável (ele, o condutor). Vocifera a cada fila de trânsito (onde estão os uberistas que nos perguntam se o ar condicionado está bom, se queremos mudar de estação de rádio e nos oferecem um Ferrero Rocher?).
Para compensar, trabalho em locais fantásticos e aprendo que me farto.
O trabalho termina à hora prevista e deleito-me a descer para para o Chiado. À porta da estação, um cantor de rua entoa “we’re far from the shallow now”. Não deixa de ter piada ele cantar isto na boca do metro…
À minha volta, tudo corre, com pressa. A lógica lisboeta. Não vou mimetizar; não tenho pressa e apetece-me fazer tudo com calma, só para contrariar.
Reflito no tanto que esta cidade mudou nos últimos anos.
Mas olho em volta e o metro está pintalgado de pessoas de camisola vermelha e águia ao peito. Estou na linha azul. Estação terminal: Reboleira. É dia de jogo na segunda circular.
Afinal, há coisas que não mudam e não estamos assim tão longe da superfície.
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