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A mostrar mensagens de fevereiro, 2024

A Superfície

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  Sou uma baleia.   Não pelo tamanho, mas pelo modo de sobrevivência. No fundo do mar, tenho um habitat temporário, turvo e povoado. Consigo ficar submersa por algumas horas, porque me foco na superfície.   Penso nesse momento em que me encaminharei para lá, Em que esguicharei o ar quente e poluído, Em que inspirarei o ar puro e concretizarei a minha troca gasosa.   Mesmo longe, comunico-me contigo. E quando te encontro, é lá que me reproduzo e amamento,   É à superfície que descanso. É à tona que me oriento e me encontro: olho para o sol e navego... Para ti.   És a minha superfície.

A Pradaria

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Durante muitos anos, como D. Quixote, lutei contra moinhos de vento. Lutas inglórias, como se sabe.   Nos dias em que estava mais inspirada, sentia-me como se tivesse escrito um best-seller e tivesse os holofotes editoriais todos apontados para mim à espera do próximo lançamento. Ouvia vozes: “nenhum livro que ela venha a escrever será tão bom quanto o último”, “quem ela julga que é?”, “deve ser plágio, de certeza!”. Eu que nunca escrevi nada...   Ou, melhor, escrevo agora. Escrever salva-me da perda da razão, acalma-me, ilumina o turvo, dá sentido à minha confusão mental. Mas não escrevo para os outros; apenas para mim, para servir os meus propósitos de clarividência. Seria incapaz de escrever algo não-genuíno. Se a minha escrita vier, um dia, a afetar positivamente outros, terá sido apenas um efeito colateral. É a história do voluntário ao contrário: o voluntário dá aos outros e recebe mais do que dá, eu escrevo para mim e posso vir a dar aos outros... sem certezas...   Voltando às l