O Sentido de um Fim
(título descaradamente roubado ao Julian Barnes porque nenhum outro seria tão bom)
Diz-se que, com este contexto pandémico, as depressões vão aumentar.
Também vão aumentar as falências, a taxa de desemprego, a violência doméstica, os suicídios...
Estes aumentos são proporcionais à diminuição do propósito de vida: quanto menos objetivos temos, maior é a probabilidade de engrossarmos as listas acima.
Bom, na verdade, as coisas da vida nunca são tão matematicamente lineares, mas gostamos de lhes dar esses contornos racionais, de colocar designações e números em quase tudo.
O que quero mesmo é abordar a questão do propósito.
Algumas pessoas parecem ter uma espécie de propensão genética para renascer das cinzas. Os palcos dos oradores motivacionais estão cheios destas fénices – que, por definição, são “aves raras” - sobreviventes que fizeram das suas desgraças as suas vitórias.
Há também o oposto das fénices, as cassandras, que passam a vida a anunciar desgraças, mas nunca são ouvidas por falta de credibilidade factual.
E depois há as outras pessoas...
As que têm uma espécie de propensão genética para deixar de ter um propósito. Olham para o amanhã e não veem nada nem ninguém a quem se possam agarrar. Não que esse propósito ou pessoa não exista... Simplesmente, não veem e não sentem.
Ou talvez sintam. O peso do vazio, da inutilidade, da insignificância.
O pior é que desconfio que as pessoas mais próximas desta última tipologia nem se apercebem...
E, quando confrontadas com o fim, dizem “como é que eu não dei conta”, “ela/ele andava tão bem”, “o que terá motivado este desfecho?”...
E não há sensores... não há “feelings”... não há porra nenhuma.
Qual é então o sentido do fim?
É o não sentido...
Créditos da pintura: Depressão, de Linkevich Daniil Sergeevich
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