VOGUE
Tomavas café na Brasileira todos os dias. Depois, ritualisticamente, descias a rua Garrett e ias namorar a montra daquela joalharia cara que só vendia marcas de criadores franceses com nomes compostos, e, logo a seguir, a daquela loja de porcelana luxemburguesa (de que nunca consegui fixar o nome) com motivos kitsch que tu consideravas “o último grito do Design”. A tua figura era inconfundível. Era capaz de te identificar a metros de distância, até mesmo naquelas multidões natalícias do Chiado. Blazer ou sobretudo escuro de alfaiate, impecavelmente engomado, golas para cima e lenço de seda ao pescoço, sapatos pretos de verniz sempre engraxados, cabelo penteado para trás com gel, tez morena e impecável, lábios finos… A nossa amizade era pura e fraterna. Via em ti o irmão que gostaria de ter tido. Costumavas dizer que se eu fosse mais alta, não te teria escapado. Gostavas de mulheres altas e magras, de cabelos longos e pele branca. Eras íntimo da meia-dúzia de modelos ...