VOGUE


Tomavas café na Brasileira todos os dias.

Depois, ritualisticamente, descias a rua Garrett e ias namorar a montra daquela joalharia cara que só vendia marcas de criadores franceses com nomes compostos, e, logo a seguir, a daquela loja de porcelana luxemburguesa (de que nunca consegui fixar o nome) com motivos kitsch que tu consideravas “o último grito do Design”.

A tua figura era inconfundível.

Era capaz de te identificar a metros de distância, até mesmo naquelas multidões natalícias do Chiado. Blazer ou sobretudo escuro de alfaiate, impecavelmente engomado, golas para cima e lenço de seda ao pescoço, sapatos pretos de verniz sempre engraxados, cabelo penteado para trás com gel, tez morena e impecável, lábios finos…

A nossa amizade era pura e fraterna.

Via em ti o irmão que gostaria de ter tido. Costumavas dizer que se eu fosse mais alta, não te teria escapado. Gostavas de mulheres altas e magras, de cabelos longos e pele branca. Eras íntimo da meia-dúzia de modelos nórdicas que vivem em Portugal, colecionavas as revistas de moda como quem coleciona fascículos de livros de história e arranjavas sempre convites para a Moda Lisboa. Preocupavas-te com o meu guarda-roupa e os meus quilos a mais depois das minhas gravidezes.

O teu salário de assessor de Marketing e Portugal não foram suficientes para ti.

Sinto a tua falta.

 

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