Frutas e Bestas
Gostavas de sair pela madrugada, com os primeiros. Desde que fosse para as ruas de uma capital, de uma metrópole. Corria-te nas veias tudo o que começa por “metro-“. Indistinta na multidão era como gostavas de te sentir. Gostavas que outros te procurassem e não te encontrassem logo, até ao desespero de um telefonema (- Onde estás? Não te vejo. De que lado da rua estás? Perto de quê? [pergunta de retórica: tu nunca estavas perto de nada]). O que não sabias era que alguns outros – não creio ter sido o único – há muito te tinham identificado e apenas queriam prolongar este momento ímpar de ti à distância. Conversar contigo era mergulhar num quebra-cabeças. Era encontrar não um sentido, mas possíveis explicações. Ter a certeza de ser ouvido e aproveitado. Andavas à procura de respostas. Não muitas: duas. 1. Por que motivo uma fruta que ontem te parecia suculenta, te parece hoje mirrada e amarga? 2. Por que motivo se passa tão rapidamente de bestial a besta? Gostavas de explicar que, embora...