Parole, Parole

Sobre-vivo delas, à unidade, ao quilómetro.
Enchem-me as linhas e a existência.
Sorvo-as dos livros apontados ou intuídos, das legendas do meu cinema.
Traço-as, desenho-as, digito-as à velocidade e ao ritmo da minha sede.
Gosto de as ver, de penetrar nelas com o olhar, de as distinguir e arrumar, de as alinhar…
Teria razão Bernardo Soares? Só estão completas quando ouvidas?
Das palavras ouvidas, começo a só gostar das que emanam de uma pauta, ditadas que são por outra melodia…
As outras, as ditas, proferidas, anunciadas, não deixam rasto à flor da pele, não têm palavra. São cruéis e mentirosas, voláteis e curtas. Não vinculam. Não respeitam.
Gosto, cada vez mais, das sussurradas, dos mantras, das silenciosas.
Das que se amontoam no papel, no monitor ou as que saltam no ecrã da tv.
Gosto dessa materialidade, de poder tocá-las, desmanchá-las.
As outras, como se diz, voam com o vento, com a expiração do expelidor.
Não se dão. Não têm palavra.

Comentários

Amando disse…
Hola:
Acabo de leer "Diez (posibles) razones para la tristeza del pensamiento" de George Steiner, y sentí curiosidad por saber quien más sentía admiración por este autor. Este es, pues, el camino azaroso que me llevó a tu hermoso blog.
Saludos y buen 2011.
Ana Bela Cabral disse…
Caro Amando,
Sou, de facto, uma leitora assídua de G. Steiner: um génio!
Obrigada pela visita.
Retribuo os votos de um bom ano de 2011.
Anónimo disse…
Como eu concordo com as tuas palavras.

:)

Alias, não escreveria melhor!

bjo
Ana Bela Cabral disse…
Obrigada pelo testemunho e pela visita.
Dei um pulinho ao teu blogue e gostei muito.
É boa a sensação de identificação!
Volta sempre.
Ah! Também adoro Clarice Lispector!

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