Páscoa

Podem ter mudado os hábitos e algumas tradições, mas, no meu imaginário, a época pascal estará sempre associada à terra da minha mãe: ao Minho.
Durante longos anos, a Páscoa foi passada em casa dos meus avós, em Darque, Viana do Castelo, e teve uma enorme magia. De véspera, madrugava-se para as grandes limpezas: tudo tinha de estar impecável para “receber o Senhor”! A minha avó, peixeira ambulante de profissão, aproveitava esta altura para fazer mais algum dinheiro e vender os doces tradicionais da Páscoa de porta em porta. Ainda tenho nas narinas o cheirinho a coco e a cobertura de açúcar! No dia de Páscoa, estreava-se roupa nova, primaveril, e enfeitava-se a soleira da porta com flores. A vila em peso ia para as ruelas dar as boas-vindas à Cruz! A dez casas de distância, a notícia chegava ao som das sinetas. A comitiva pascal, vestida a preceito, engrossava em cada casa: padre, ajudantes e afins, vizinhos, ajudantes e afins… Entravam e o momento solene e tão aguardado acontecia: beijava-se a Cruz, em silêncio… A comitiva era então encaminhada para a farta mesa e ai de quem não provasse as iguarias e não bebesse um calicezinho de qualquer coisa.
Passada uma década, os avós partiram, constituíram-se novas famílias e aproveita-se a Páscoa para umas mini-férias longe de casa.
No ano passado, a minha costela minhota – da qual muito me orgulho – falou mais alto e decidi abrir as portas da minha casa (numa aldeola às portas de Viseu) ao Senhor: mesma azáfama para deixar tudo impecável e para preparar uma mesa digna da Visita. Ainda tentei pôr umas florzitas à porta, mas não vi adesão na vizinhança e envergonhei-me. Quando avistámos a pequena comitiva pascal ao fundo da rua, esmoreci: a maioria das casas estavam de portas fechadas e os quatro gatos-pingados vinham à civil (não havia padre, mas apenas uma representação da Paróquia). Beijou-se a Cruz, petiscou-se qualquer coisa, cumpriu-se a tradição, mas – sinceramente – não teve o mesmo significado…
Como não podia deixar de ser, é também nesta altura que dou por mim a reflectir no sentido de ser afilhada e madrinha. Cresci numa família onde o culto aos padrinhos é uma obrigação moral. Adoro os meus padrinhos! Quando pequena, o Domingo era religiosamente reservado aos padrinhos que ia visitar ao 16.º bairro parisiense. Hoje, depois de os mesmos terem apadrinhado o meu Crisma e o meu Casamento, é com a mesma alegria que os visito ao Algarve, de onde é originária a minha madrinha.
Hoje, tenho a sorte de dar ainda mais sentido a estes laços: tenho 4 afilhados LINDOS! Estreei-me cedo, aos 15 anos, com a Raquel, a minha primogénita, hoje com 21, estudante de enfermagem, linda de morrer. De certa forma, esta relação é singular devido à pouco diferença de idade que nos separa; para ela, nunca fui a “madrinha”, fui sempre – e serei - a Belita. Depois, vem a minha Maria, 11 anos, que também é minha sobrinha. Logo a seguir, a Liliana, a minha rebelde e indomável Lili, 10 anos. E, finalmente, o único homenzinho do lote, o Vasco, o meu anjinho aloirado, 5 aninhos.
É para eles esta canção!

Comentários

Rita disse…
Aninhas: ao ler o teu post revi, também, a minha Páscoa em tempos idos de inocência...
Visualizei e revivi todos os pormenores que deste da visita pascal. Era tão bom. Recordo-a na quinta que tínhamos, distante da aldeia 1km. Enfeitávamos as escadas com flores. Punhamos "beijinhos" nas mesas. lembras-te desses biscoitinhos?!

Quando o ser padre se ouvia a descer a ladeira para a quinta, no seu fiat 127, era uma alegria imensa - finalmente íamos comer os bolos!!

Enfim...dói crescer...

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