O Estranho Caminho de Santiago

Fiz recentemente o Caminho de Santiago. “Fiz”, obviamente, em sentido metafórico ou, se preferirem, metafísico.

Passo a explicar.
Fui recentemente a Santiago de Compostela visitar uma amiga. Mais do que uma amiga, uma irmã. A minha irmã galega, como lhe costumo chamar.

Sou de ascendência galega por parte do meu avô materno e, embora se tenham perdido os rastos da genealogia, julgo ter “encontrado” por lá a minha irmandade. “Irmandade” num sentido que ultrapassa as fronteiras dos laços de sangue.
Direi apenas, para resumir e não entrar em pieguices, que os nossos caminhos estavam destinados a cruzarem-se. A minha irmã veio ao meu encontro, pela primeira vez, numa altura em que eu precisava dela e, desta vez, fui eu ao seu encontro, sem o saber, também, e mais uma vez, precisando. O recíproco será muito provavelmente correto também. Viagem inadiável, portanto.

Não é objetivo desta partilha descrever os momentos vividos em Santiago. Poderia descrevê-los. Não saberia explica-los. Dir-vos-ei apenas que a minha irmã me ofereceu um livro: O Peregrino de Compostela de Paulo Coelho, na sua versão espanhola.
Quando vi de que autor se tratava, pensei instintivamente “não vou conseguir ler isto”… Nunca apreciei e recuso-me a ler toda a literatura que se faz à volta de segredos, códigos e afins. Como a minha irmã não me deixou ler a dedicatória fazendo-me sinal para que o fizesse mais tarde, meti o livro na mala e esqueci-o por momentos.

Na véspera da partida, fui surpreendida pela notícia da perda de um ente querido. O segundo este ano… O regresso foi antecipado e iniciou-se um turbilhão de sentimentos contraditórios. Ao regressar do velório, sentia-me triste, perdida e, sem saber muito bem porquê, peguei no dito livro e comecei a lê-lo. A resposta estava, em parte, na dedicatória, e a explicação no seu interior.
Entre outras coisas, fui a Santiago buscar esse livro. Essa “viagem” tinha de ser feita.

Fiz (faço e farei) então a viagem das pessoas comuns, com o entusiasmo que lhe é devido e com a aplicação prática que lhe atribuí.
Renasci e descobri que posso fazê-lo sempre que quiser.

Descobri que, por vezes, os detalhes nos desviam dos nossos verdadeiros intentos e nos fazem esquecer o que realmente buscamos.
Aprendi que não se deve interromper uma manifestação de amor e que, quando isso acontece, ficamos obrigados à reconstrução.

Decidi que não quero fazer da minha vida uma sucessão de tardes de domingo, apesar dos sonhos mortos.
Falei algumas vezes com o meu mensageiro. Baixinho…

Entendi, finalmente, este Amor que Devora. Assumo-o mais do que nunca!
Compreendi o que quer dizer o meu coach quando diz “se queres aprender, ensina”.

A lista poderia continuar, mas cada um terá de fazer o seu caminho. O caminho das pessoas comuns.
E, sim, não há coincidências. Sim, as pessoas chegam sempre à hora e ao local exatos onde são esperadas.

Gracias, mi hermana gallega.


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