O Chaves
Tinha a aparência de um toxicodependente do Casal Ventoso
dos anos 80.
Cabelo desgrenhado que não via água do cano há mais de
quinze dias, calças de ganga e T-shirt desbotadas e puídas, mãos gretadas e
odor de suor sobre suor.
Falava sozinho, como se conversasse com os mortos que lhe
respondiam.
Parecia daquelas criaturas surgidas do vácuo, a quem não
atribuímos nem história, nem família, nem lar.
Recapitulava em voz alta a cor e a ordem dos fios que
cravava como se recitasse a tabuada.
Não passava recibo e deslocava-se numa carrinha Audi dos
mesmos anos 80.
O Chaves era o melhor eletricista da Vila.
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