Foz de Memórias ou Foge de Memórias
Não
sei se já está provado cientificamente, mas estou convencida que as mulheres
têm mais e melhor memória que os homens.
Duvido
que te lembres, com tanto pormenor, dos nossos primeiros anos no Porto.
Das
águas-furtadas no Bonfim, a que chamavas Casa de Bonecas. Lembras-te?
Dos
longos passeios junto ao rio, aos domingos. Ficavas longos minutos, que a mim
pareciam horas, a olhar para os pescadores. Dizias que, de tanto olhar,
acabarias por descobrir de onde lhes vinha a paciência. Lembras-te?
Dos
fins de mês apertados, a contar os tostões que nunca chegavam a Contos. Eu, a
servir de guia nas caves, antes da era das maquinetas falantes. Tu, a guardar
livros e a contar os Contos de outros. Lembras-te?
Da
primeira noite de S. João, em que atravessámos a ponte D. Luís às centenas, e
pensávamos que a ponte cairia. Lembras-te?
Depois,
com os dinheiros da CEE, mudámo-nos para a Cidade Maior e esquecemos a Cidade
da Foz.
Pergunto-me
se os nossos filhos sabem que tenho tão boa memória…
Sabes,
as minhas memórias desembocaram hoje na Foz do Rio. Andei à tua procura nas
inscrições gravadas nas pedras dos apaixonados, mas não te encontrei.
Lembras-te
daquela casa abandonada junto às roulottes das bifanas que queríamos
reconstruir? É hoje um condomínio de luxo.
Alguém
reconstruiu por nós.
Comentários