Força Vital
No ano passado, visitei a riquíssima coleção de arte privada
da espanhola Pilar Citoler, no Le Bellevue, em Biarritz.
De entre o seu vasto espólio, chamaram-me a atenção dois
retratos do fotógrafo “autodidata” francês Pierre Gonnord. Desde Bloncourt que
sou apaixonada por retratos.
No geral, gosto de apreciar boa fotografia, mas sempre achei
que era mais meritório fotografar gente do que paisagens ou objetos. Os rostos
e os corpos, as roupagens que os cobrem e o espaço que ocupam em outro espaço
maior carregam estórias e mensagens a que cada recetor dará um significado
próprio, apoderando-se de detalhes.
Por este e outros motivos, não podia deixar de visitar, este
ano, no mesmo espaço, a exposição temporária Indarra (“força” em basco) de Gonnord.
Os seus retratos são desarmantes, arrepiantes...
Sempre em fundo preto, os fotografados olham de frente para
a objetiva, sérios... Nos seus olhos, o reflexo de uma janela aberta. É tão
desconcertante que dei por mim a reparar em pormenores: o cotovelo do casaco
coçado, o borboto da camisola, um pelo de animal na lapela...
Como o próprio autor descreve, “olhar nos olhos do outro, é
entrar na sua intimidade, mergulhar na verdade daquele que observamos à nossa
frente”.
Pode não ser a verdade do “observado”. Pode ser tão-somente
a nossa, que observamos. O que importa é que esse ato de observação suscite em
nós a emoção e nos interpele.
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