Olhei para ti

 Os dias corridos tolhem-nos o sentido da visão.

Habituados que estamos a olhar, horas a fio, para quadrados e retângulos, esquecemo-nos de olhar para a vida à nossa volta.


Esta manhã, olhei para ti.

Estavas sentado ao meu lado, no carro, e olhei para ti.

Não deste conta.

Mas, olhei para ti.


Olhei para o teu perfil, os teus olhos esverdeados e meigos, a tua barba a despontar.

Achei-te lindo e pensei na sorte que tinha de ainda poder olhar para ti e sorri.

Não deste conta.

Mas, olhei para ti.


Sei que tu olhas para mim com frequência e envergonho-me.

Envergonho-me do teu olhar, sempre tão admirador e submisso.

Envergonho-me hoje por não lhe corresponder tanto quanto deveria.

Mas, hoje...

Não deste conta.

Mas, olhei para ti.


Sabes que não gosto de ser fotografada a olhar para a máquina e consciente da objetiva.

É assim que gosto de olhar para ti, sem que o saibas ou te apercebas.

Esta manhã...

Não deste conta.

Mas, olhei para ti.


Os tempos vão estranhos e afastam-nos do outro.

Usamos máscaras que nos ocultam a tristeza e os sorrisos.

Mas eu ainda posso olhar para ti.









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