Sim

Os anos de solidão anestesiaram-me os sonhos ao ponto de pensar que já não poderia sonhar.

As lutas profissionais monopolizaram as minhas dores, as minhas horas, as minhas noites.

Menina, com a cabeça sempre enfiada em livros, eu costumava flutuar.

Mulher, embora com a cabeça em livros, aterrei na realidade de uma vida sem sonhos.


Depois, conheci-te. 

E, pouco a pouco, ano após ano, a solidão foi-se dissipando porque tinha alguém a quem mandar mensagem quando chegava ao destino, alguém a quem contar o meu dia, alguém em quem despejar as minhas frustrações.

As lutas profissionais continuaram, mas havia as sextas à noite, um horizonte contigo, conversas sem fim, um colo...


E o meu dia chegou, aquele que nunca pensei viver, o meu sonho.

Ajoelhaste-te, pensei que estavas – como é teu hábito – a brincar comigo. Não levei a mal a brincadeira e entrei nela, sentei-me ao colo do teu joelho enterrado na areia húmida. E, nervoso, estendeste-me a caixinha, abriste-a, pediste-me para casar contigo e colocaste o anel no meu dedo.

Obviamente, disse-te que sim, tê-lo-ia dito mil vezes. Como dizer não a um sonho?


E, desde esse dia, sou uma mulher diferente, com um propósito, com um futuro, com um lar.

O adorno que agora não sai do meu dedo pode ser, para alguns, um mero símbolo. A mim, transformou-me os dias, pois está ao alcance da minha vista quando esmoreço.

Sei agora para que fui feita.







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