O Amor é um Desvario



O último livro de contos de Teolinda Gersão é delicioso.
Fez-me lembrar o quanto gosto desta forma encurtada de escrita, fez-me viajar ao tempo do Páginas Lentas (coletânea com 3 edições na qual publiquei 3 contos) e deu-me vontade de voltar à escrita ficcional. À minha escrita.
Como bem resume Maria Alzira Seixo, Teolinda escreve a vida. Escreve o que dela interessa, o que dela levamos: os prantos, os amores (os maiúsculos e os minúsculos), os desvarios, as loucuras… Envolvente, lê-se de um trago e pede-se mais.
Deixou-me a pensar como se gere a questão da passagem do conto ao romance (e vice-versa). Pergunto-me algumas vezes se seria capaz de escrever algo tão longo quanto um romance… Mas essa passagem não constitui problema para Teolinda que manuseia a língua portuguesa com elegância e alguma ousadia (q.b.).
O último conto, Alice in Thunderland, é surpreendente. A ideia de dar voz a Alice, de a pôr a contar a sua versão dos acontecimentos “underground” é genial.
Há dias, ainda não tinha eu começado a ler o livro, ouvi a entrevista de Teolinda ao programa radiofónico À Volta dos Livros, no qual a autora dá um certo realce ao conto Jogo Bravo, dedicado ao futebol. Curiosamente, não é um dos meus preferidos: acho-o “demasiado vernáculo”. Contudo, sublinhei nele uma passagem sugestiva:
“Porque é assim que somos: incompletos, básicos, normais, a um passo de sermos vitoriosos ou frustrados, e inseparáveis da nossa bestialidade mais pura.
Do conto Uma Tarde de Verão, realço a passagem seguinte: “E, porque me perguntas, confessarei que sim, que a vida é um cão raivoso, que ninguém passa por ela sem mordeduras fundas. Em geral mortais.”
No Alice admite-se: “Mas nunca nada se passa como nos sonhos, e as histórias de amor têm um lado de espinhos.”
O Amor é, de facto, um desvario.


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