Música e Bilinguismo I

[estou a ouvir “Tout l’or des Hommes”, Céline Dion]
Há já algum tempo que tenho uma dúvida existencial sobre a minha preferência por cantores francófonos…
No caso dos cantores bilingues (sobretudo os canadianos ou de influência canadiana), sempre preferi as respectivas discografias francófonas. Os exemplos mais ilustrativos são, obviamente, Céline Dion e Lara Fabian, que foram catapultadas para a fama internacional graças às suas músicas em inglês. Lembram-se certamente do sucesso do álbum “A new day has come”, para a primeira, e do álbum “A wonderful life”, para a segunda. Ou de músicas avulsas como “My heart will go on” ou “Love by grace”. Conhecendo eu a outra face da moeda, nunca entendi!
Acompanho a carreira (francófona!) da Céline Dion desde o velhinho Festival da Canção de 1988 (“Ne partez pas sans moi”). Além da “Pour que tu m’aimes encore”, a única que teve algum êxito além-fronteiras francófonas, músicas como “Tout l’or des hommes”, “Ziggy”, “L’amour existe encore”, “Contre nature”, “Je ne vous oublie pas”, “Le vol d’un ange”, etc., etc., são absolutamente fenomenais!
Posso afirmar o mesmo da discografia francófona da Lara Fabian. Músicas como “La lettre”, “Tu es mon autre”, “Immortelle” ou, a minha favorita, “J’y crois encore”, que elegi como lema de vida, são omnipresentes.
Também poderia dar o exemplo do canadiano Garou, o Quasímodo do musical Notre-Dame de Paris, e do seu arrebatador álbum francófono “Seul”, mas não quero entrar em detalhes, até porque… prefiro “Vozes Femininas”!
Há dias participei, como Intérprete, num congresso sobre Direito Linguístico, no qual o tema do bilinguismo e da língua materna foi abordado. Um dos oradores portugueses dizia em tom de brincadeira: “Não consigo dizer ‘I love you’ à minha esposa: soa a falso!” É a velha questão de a língua materna ser a língua dos afectos, dos sentimentos… Deve ser por isso que sei, na ponta da língua, a tabuada em francês (que é a minha língua materna ou, se preferirem, língua primeira) e não a sei em português!… Deve ser por isso que prefiro a versão francófona de um cantor bilingue.
A acreditar no Tomatis, somos todos poliglotas, tudo se resume a uma questão de “ouvido”… Será?
Continuo com dúvidas…
Se tomarmos como exemplo aquele famoso dueto da Lara Fabian com a Laura Pausini na Piazza di Spagna, em Roma, a teoria cai por terra. A música é “La Solitudine”, em italiano, portanto. Lara Fabian é belga francófona (embora tenha vivido 5 anos na Sicília), Laura Pausini é italiana. Contudo, o resultado não deixa margem para dúvidas e os comentários no YouTube são unânimes: Lara Fabian é superior.
Dizem os italianos que conheço (os meus recém-licenciados estagiários do programa Leonardo Da Vinci), que Laura Pausini é o Marco Paulo lá do sítio, pimba, mais pimba, não há. Não deixa de ser estranho dado o sucesso que esta cantora tem arrecadado fora do seu país. Mas, este caso é mais estranho ainda: ela canta uma música da sua autoria e na sua língua materna!
Este enigma está longe de estar solucionado…
Antes de vos deixar com o dito dueto, aqui fica o meu lema:

J’y crois encore (Lara Fabian)

D'ici rien ne parle, rien ne bouge
Arrêt sur écran vivant
Isolée et vaincue sans doute aliénée
Pas même un battement

J'aimerais qu'on me ramène
Je ne reconnais plus les gens
Seule tout au fond de ma haine
La peine est mon dernier amant

Il faudrait que je me lève
Respire et marche vers l'avant
Bâtisse à nouveau la grève enterrée
Par mes sables mouvants

Et me souvenir de celle
Qui n'existe plus vraiment
Redevenir la rebelle
Et la bête vaincue par l'enfant

Refrão:
J'y crois encore
On est vivant tant qu'on est fort
On a la foi tant qu'on s'endort
La rage au ventre
J'y crois encore
A tout jamais, jusqu'à la mort
Le silence a eu tort
J'y crois encore

Et que l'espace où j'en crève
Devienne un autre néant
Quand le ciel dévoilé soulève en moi
L'àme et l'émoi d'un géant

Me retourner sans un geste
Passer mon passé vraiment
Cracher sur tout ce qui blesse
Ramener le futur au présent

Refrão

Comentários

Rita Nery disse…
Olá!!

Às vezes não é tanto a falta de gosto que nos leva a criticar esta ou aquela cantora, passa quanto a mim pelo desconhecimento total do trabalho por elas (neste caso) desenvolvido ao longo de anos, que estávamos longe de imaginar.
Na música como entre tantas outras áreas a ignorância insiste e é teimosa, tendo em conta que as modas tendem a captar os ouvidos menos cultos de forma rápida e eficaz, não dando sequer oportunidade a uma breve luz, som de qualidade.

Beijinhos!!!

Rita Nery
Ana Bela Cabral disse…
Espírito aberto, Rita, é isso que falta! E respeito! Respeito pelas opções, pelas paixões de cada um. Nesta matéria, gosto do meu eclectismo, de gostar um pouco de tudo! Beijinho!
Rita disse…
Aiiiiiiii, Aninhas, logo pela manhã vi este "bídeo"! Até me arrepiei com a beleza da voz da loirinha! A espécie de Marco Paulo também lhe dá uns toques!
Bjs
Ana Bela Cabral disse…
Quer se goste ou não da "loirinha" e da "espécie de Marco Paulo", este "bídeo" é deveras contagiante e não deixa ninguém indiferente! Ainda bem que gostaste, Amiga!
Olá priminha! Parabéns pelo Blog!
A propósito do bilinguismo na música, gosto da Elisa Toffoli, uma cantora italiana que julgo ser pouco conhecida no nosso país… Não sei bem porquê, mas prefiro ouvi-la cantar em inglês… :)
Adoro esta música: http://www.youtube.com/watch?v=qi6_41G63ck
Beijinhos,
Elisa
Ana Bela Cabral disse…
Bem!... Que falsetes fantásticos!... Não conhecia. Obrigada pela sugestão! Aliás, este é também um dos objectivos deste blog: partilhar gostos, dar a conhecer, descobrir! Beijo grande prima querida!

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