Livro manchado

Estava hoje embrenhada nas minhas leituras de doutoramento, quando verti a minha infusão sobre o livro da leitura em curso, por sinal tomado de empréstimo.
Lembrei-me logo das “técnicas” de envelhecimento de papel utilizando café ou chá que a minha amiga Rita me ensinou. Dei por mim a pensar que um livro manchado tem outro valor, outra significação.
Há muito que não dou as minhas voltinhas nas feiras de velharias e alfarrabistas por onde vou passando (aliás, nos últimos tempos, deixei de fazer – estupidamente - muita coisa de que gostava…). Lembro-me de ter comprado, há largos anos, numa dessas feiras, um dicionário técnico multilingue dos anos 30, amarelecido pelo tempo, com cheiro a mofo e tudo! Ainda hoje o guardo religiosamente e, cada vez que pego nele, tento imaginar as mãos que nele pegaram antes de mim, as consultas que nele foram feitas, os tradutores ou outros curiosos que com ele conviveram, os motivos que os terão levado a desfazer-se dele…
Resumindo e concluindo: gosto de livros vividos, livros manchados pelo convívio que se vai instalando à sua volta, infusões ou outros, livros rabiscados, sublinhados, anotados, de pontas dobradas, folhas inadvertidamente rasgadas, com rasuras de descontentamento, pontos de exclamação ou interrogação…
Deve ser triste ser livro intacto, livro virgem, livro imaculado, livro livro.
Um livro quer-se manchado, quer-se vivido.

Comentários

Rita disse…
E se tiver um pinguinho de vinho?! Nem imaginas quão soberba se pode tornar a recordação!

Mil beijinhos para ti! Tenho saudades tuas!
Ana Bela Cabral disse…
Também tenho muitas saudades, minha querida!
Vemo-nos em breve, ok?!
Beijo grande
Rita disse…
Ok! Com vinho ou sem vinho!
falmeida disse…
Hey! Thanks for reminding me of this which I hadn't thought about in ages!!!

http://www.youtube.com/watch?v=XRM_OVAsnfo&feature=related
Ana Bela Cabral disse…
Thanks for following me, Fernando! It's good to have a man around.

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