Ana Maria

Sempre tive uma admiração secreta (not anymore…) por quem, sem o esperarmos, resolve virar a sua vida de pernas para o ar. Pessoas há que estão sempre a ameaçar: «qualquer dia faço…». Outras, pela calada, preservando toda a sua intimidade e o seu espaço, chegam um belo dia e… «Vou viver para a Austrália.» Ponto final. Não é ponto de exclamação. Não são reticências. É ponto final.
Eu e a Ana Maria costumávamos “dar boleia” uma à outra no comboio que nos levava e trazia de Cascais para Lisboa e de Lisboa para Cascais. Éramos colegas e trabalhávamos com frequência nos mesmos eventos. Aqueles 45 minutos a contornar a marginal traziam consigo um halo de paz e tranquilidade. A Ana é mais velha do que eu (tem quase a idade da minha mãe) e é daquelas mulheres eternamente belas pela sua serenidade e olhar longínquo.
As viagens eram alternadas entre silêncios, venturas e desventuras. Guardo como sábios todos os conselhos que a Ana Maria me foi dando ao longo dos anos de viagem. Sensatez, ponderação, meiguice, lucidez, são algumas das palavras que associo à figura angelical daquela que foi um dia bailarina da Gulbenkian e, mais tarde, intérprete exemplar.
Quando a Ana Maria decidiu ir para a Austrália, mudei-me para Lisboa. Ainda bem. As viagens de comboio não teriam sido as mesmas. A sua partida deixou um enorme vazio nas cabinas, nos coffee-breaks, nos almoços e em cada um daqueles que tiveram a sorte de cruzar o seu caminho.
Foi por isso que, na segunda-feira, quando recebi o telefonema da Sara Rocha (só tu mesmo, meu anjo) a informar que a Ana Maria estava em Portugal a passar férias e que se estava a organizar um jantar para quarta, não hesitei. Nem a operação do dia seguinte me demoveu:
- Comecem a jantar sem mim, mas eu vou!
O jantar era uma surpresa para a Ana. Acabei por ser a primeira a chegar. Quando a vi a entrar no recinto da feira de artesanato do Estoril, já só pensava naquele abraço. Que bom que foi aquele abraço!
Assaltámos a Ana com perguntas sobre a vida na Austrália, fizeram-se inevitáveis comparações, recordaram-se tempos idos. Quanta boa disposição!
Deixo-vos uma recordação desse memorável jantar e uma voz australiana, porque não?


(da esquerda para a direita, Sara, Clarinda, Cristina, João Paulo, Ana Maria and me)

Comentários

Unknown disse…
Os teus comentários são como sempre: doces como a tua voz.
Realmente um jantar excelente, temos de organizar mais, não só quando a Ana nos visita.
Beijo
Sara
Ana Bela Cabral disse…
Muitos e organizados por ti. São os melhores: não há surpresas, corre sempre tudo bem. :)
Um grande beijinho!

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