Mini-conto de Outono

Cheguei à Caparica quase de madrugada, à hora dos surfistas.
Para quem vem da cidade, o cheiro a maresia é bom, mas não suficiente. Preciso com urgência de um pequeno-almoço.
Estaciono na marginal, junto ao hotel de quatro estrelas. Para surpresa minha, encontrar um café aberto foi mais fácil do que esperado. Não falta de pão fresco (como teria sabido bem o pãozinho fresco!), vai o bolo de arroz e a meia-de-leite.
O rapaz do balcão está visivelmente maldisposto; não sei se da hora, se da vida…
Entra o patriarca, com cara de patriarca, maldisposto, não sei se da hora, se da vida…
- Não vais levar o puto à escola?
- Já liguei. Ninguém atende. Deve ter o telemóvel desligado.
- Ligaste para casa?
- Hein?
- Pró fixo?
- Não tem.
- Então e a que horas é a escola?
- Hoje não há escola. Vão a um passeio fazer paintball…
- Então e o avô não pode ir levá-lo?
- Qual avô?
- O outro.
- Poder, podia…
- Boa vida… [entre dentes] Eu vou lá buscar o puto. Toco à campainha.
- O.K….
- Fazes-me só um favor?
- Diz…
- Telefonas para a TMN e dizes que não quero receber mais mensagens às 3 da manhã, O.K.?!
- O.K.
- Não te esqueces?!
- Não, eu ligo.
- É que se não atiro com aquela porcaria contra a parede!...
Sai, batendo a porta do café, fazendo estremecer o electrificador de moscas.

Comentários

Rita disse…
Que conto "tooolo"! Eh! Eh!
T1000storm disse…
:) Que cena engraçada!
Ana Bela Cabral disse…
Para mim, escrever também é isso mesmo: suscitar sorrisos, independentemente dos motivos! Obrigada por me lerem.

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