A vida nos bosques ou talvez não

Passei a ter na mala apenas o telemóvel (para receber as chamadas da minha filha) e, dentro da carteira, o B.I., o Cartão Multibanco e o passe social. Retirei: a bolsinha da maquilhagem carregada de inutilidades, o kit de limpeza dos óculos, o pacote de lenços de papel, o bloquinho com as listas de compras, a caixinha dos cartões-de-visita, as chaves de todas as portas da casa, as pastilhas rennie, os pensos rápidos comprados aos putos romenos, etc., etc, Da carteira, retirei: o cartão das finanças, da segurança social, do centro de saúde, de pontos da Galp, da Repsol e da BP, do Continente e do Pingo Doce, os talões dos restaurantes e dos supermercados dos últimos 9 meses, etc., etc.
O meu guarda-roupa passou a ser exclusivamente constituído por básicos confortáveis, sabrinas e sapatilhas. Abdiquei da maquilhagem, do secador de cabelo e da Epilady.
Lá em casa, levei a cabo uma operação de limpeza radical: 2 carregamentos para a Remar e 3 sacos grandes da Toys’R Us (que a vizinha do 3.º direito me arranjou) cheios de roupa nos contentores para África. Perdi a conta aos sacos do lixo, mas ofereci umas cervejas aos senhores do camião.
Retirei as cortinas lá de casa para poder contemplar o skyline de Lisboa e para deixar o sol e a lua entrarem.
Ocupei a varanda com vasinhos de ervas aromáticas, um tomateiro e vários espanta-espíritos que eu própria fiz com cápsulas da Nespresso (também aproveitei as borras do café para a terra).
Doei a TV e implementei um plano de emergência para pôr a leitura em dia. Comecei pelos inevitáveis clássicos menosprezados na minha juventude.
Passei a andar muito a pé e de transportes públicos, quando muito necessário. Regateio com as senhoras do mercado. Reciclo e reutilizo tudo o que posso.
Tenho sorte porque nunca tive grande contacto com o mundo virtual. Não sei mexer em computadores e nunca visitei a Internet. Diz-se por aí que é viciante e que deixar é difícil.
De resto, até foi um percurso fácil.
Só não me consigo livrar do gira-discos…

Comentários

Rita disse…
Quase perto de ti...
Beijinhos
Ana Bela Cabral disse…
Obrigada pela "proximidade".
Entristece-me estar tanto tempo longe de quem gosto (de ti, principalmente) e do que gosto de fazer (escrever, por exemplo). Este ponto de encontro é bom, mas sabe a pouco...
Beijo grande.

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