Obsolescência Programada
Por sugestão de um primo meu, vi ontem um documentário espanhol sobre o tema da Obsolescência Programada.
Desde então, o conceito de O. P. – do qual tinha uma vaga noção – não me sai da cabeça. Passei o dia a aplicá-lo a tudo o que movia à minha volta. Um engano?
Trocado por miúdos, a O. P. é um conceito económico surgido nos anos 20 do século passado que traduz as acções industriais destinadas a encurtar a vida útil de um produto com o intuito de dinamizar o consumo e, por conseguinte, a economia. O documentário dá vários exemplos ilustrativos de entre os quais o das meias de vidro ou o da velhinha lâmpada de tungsténio e, mais recentemente, o das impressoras às quais é adicionado um chip que limita o número de impressões.
O documentário põe ainda em causa os reais efeitos da O.P. chamando a atenção para questões de sustentabilidade e para a pegada ecológica. A posteridade não perdoará.
Pois é, vivemos num mundo onde quase tudo é descartável. Troca-se sem a garantia de se estar a trocar para melhor. E não são só telemóveis, impressoras ou outros objectos.
Quando resolvido, troca-se um problema por outro, sem folga para celebrações.
No dia que se segue à eleição, o político sofre uma depreciação automática, qual automóvel saído de um stand.
As amizades e outras relações humanas são finitas: basta “remover” de uma lista virtual de “amigos”.
Já não há “o livro/o filme da minha vida”; as predilecções são rapidamente substituídas.
A lista poderia continuar ad eternum.
O que me interpela é que no fenómeno da O.P. o prazo de validade das coisas é predefinido e motivado por argumentos materiais. E o prazo de um problema? De um político? De uma relação humana? De um bom livro?...
Limita-se a vida de um objecto para a máquina não parar. Na esfera emocional/relacional, o “a prazo” faz parar a máquina, estimula a desilusão e a mágoa.
Gosto das velhas amizades, das relações de trabalho e colaborações de longa data, dos casais de velhotes de mãos dadas, das calças que já tenho há 15 anos e continuo a usar, das pessoas que têm o título de um livro na ponta da língua.
Gosto.
Desde então, o conceito de O. P. – do qual tinha uma vaga noção – não me sai da cabeça. Passei o dia a aplicá-lo a tudo o que movia à minha volta. Um engano?
Trocado por miúdos, a O. P. é um conceito económico surgido nos anos 20 do século passado que traduz as acções industriais destinadas a encurtar a vida útil de um produto com o intuito de dinamizar o consumo e, por conseguinte, a economia. O documentário dá vários exemplos ilustrativos de entre os quais o das meias de vidro ou o da velhinha lâmpada de tungsténio e, mais recentemente, o das impressoras às quais é adicionado um chip que limita o número de impressões.
O documentário põe ainda em causa os reais efeitos da O.P. chamando a atenção para questões de sustentabilidade e para a pegada ecológica. A posteridade não perdoará.
Pois é, vivemos num mundo onde quase tudo é descartável. Troca-se sem a garantia de se estar a trocar para melhor. E não são só telemóveis, impressoras ou outros objectos.
Quando resolvido, troca-se um problema por outro, sem folga para celebrações.
No dia que se segue à eleição, o político sofre uma depreciação automática, qual automóvel saído de um stand.
As amizades e outras relações humanas são finitas: basta “remover” de uma lista virtual de “amigos”.
Já não há “o livro/o filme da minha vida”; as predilecções são rapidamente substituídas.
A lista poderia continuar ad eternum.
O que me interpela é que no fenómeno da O.P. o prazo de validade das coisas é predefinido e motivado por argumentos materiais. E o prazo de um problema? De um político? De uma relação humana? De um bom livro?...
Limita-se a vida de um objecto para a máquina não parar. Na esfera emocional/relacional, o “a prazo” faz parar a máquina, estimula a desilusão e a mágoa.
Gosto das velhas amizades, das relações de trabalho e colaborações de longa data, dos casais de velhotes de mãos dadas, das calças que já tenho há 15 anos e continuo a usar, das pessoas que têm o título de um livro na ponta da língua.
Gosto.
Comentários
gostei do texto, mas identifiquei-me sobretudo com o último parágrafo. também sou assim. as minhas predilecções acompanham-se há longos anos e tenho nomes de livros, filmes, músicas e bandas sempre na ponta da língua.
Continua a identificar-te com o último parágrafo: é onde reside o sentido do ser e do estar!
"as minhas predilecções acompanham-me há longos anos".
e sim, recuso-me a seguir o novo acordo ortográfico.
Quanto ao acordo... Ai! Fiquei com uma dúvida... Será Obsolescência?! LOL
Embora não te conheça pessoalmente, pensei que concordávamos em (quase) tudo! ;)