A Filosofia, da Direita à Esquerda
A Filosofia é um dos meus hobbies preferidos. No
âmbito desse hobby, não abdico da leitura mensal da revista francesa “Philosofie”.
Como não podia deixar de ser, a edição de Abril é dedicada às eleições
presidenciais em França.
Sempre numa perspectiva filosófica, é traçado o retrato dos
candidatos e são definidos os valores de direita e de esquerda. Destaco uma
curiosíssima reportagem que se esforça por assimilar Hollande à figura de
Rousseau e Sarkozy à de Hobbes. A coisa está bem conseguida: o homem “bom por
natureza” contra o “homem-lobo”.
Mas a minha preferência vai para uma entrevista a Raffaele
Simone, um linguista e filósofo italiano (porque é que os linguistas são quase
todos filósofos?!), para o qual o homem nasce, à partida, de direita, isto é,
egoísta e predador. Posteriormente, por questões diversas associadas ao medo e
ao instinto de sobrevivência, vai adquirindo o gosto pela cooperação e pela paz,
logo, vai ficando de esquerda. Por outras palavras, enquanto o instinto é de
direita, a vontade de o controlar é de esquerda; a esquerda implica um esforço,
enquanto a direita propõe uma entrega ao instinto e ao prazer.
Contudo, o autor descreve uma “nova direita” (representada
actualmente por Sarcozy e Berlusconi), com um novo estilo: descomplexada,
indiferente (e até hostil) à cultura e à arte, ou seja, à inteligência sob
todas as suas formas. Uma nova direita que já não está do lado da severidade e
das tradições, mas do enriquecimento rápido e da concorrência desenfreada,
interpelando as populações, os seus gostos e aspirações. Do outro lado, está a
esquerda que continua a bater-se pela importância do saber, da educação, do
público, da solidariedade para com os mais desfavorecidos e estrangeiros.
Para concluir, é muito mais difícil ser de esquerda e se a
esquerda quiser ganhar terreno será necessário fazer um esforço monumental de
renovação de ideais, das suas palavras de ordem, dos seus projectos. Entre
outras coisas, deverá ter em conta as mudanças civilizacionais recentes.
Perspectiva filosófica acertada?
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