Estava hoje embrenhada nas minhas leituras de doutoramento, quando verti a minha infusão sobre o livro da leitura em curso, por sinal tomado de empréstimo. Lembrei-me logo das “técnicas” de envelhecimento de papel utilizando café ou chá que a minha amiga Rita me ensinou. Dei por mim a pensar que um livro manchado tem outro valor, outra significação. Há muito que não dou as minhas voltinhas nas feiras de velharias e alfarrabistas por onde vou passando (aliás, nos últimos tempos, deixei de fazer – estupidamente - muita coisa de que gostava…). Lembro-me de ter comprado, há largos anos, numa dessas feiras, um dicionário técnico multilingue dos anos 30, amarelecido pelo tempo, com cheiro a mofo e tudo! Ainda hoje o guardo religiosamente e, cada vez que pego nele, tento imaginar as mãos que nele pegaram antes de mim, as consultas que nele foram feitas, os tradutores ou outros curiosos que com ele conviveram, os motivos que os terão levado a desfazer-se dele… Resumindo e concluindo: gosto de ...
Atravesso a espaçosa sala das bilheteiras, saio para a rua. Dou de caras com um grupo de 4 muçulmanos ajoelhados e virados para Meca. É o Ichá, dirão os entendidos. Procuro o início da fila dos táxis. Parece que passou a ser perigoso apanhar Ubers à noite e, assim, não tenho de esperar e de tentar decifrar marcas de carros e matrículas ao longe. A visão já não ajuda. Entro. O meu motorista é brasileiro e não sabe onde fica o bairro de Pedralvas. “Meta Benfica no GPS. Havemos de nos desenrascar”. Desenrascamos. De manhã, chamo um Uber. A praça de táxis ainda é longe e, de dia, o risco é menor. Lá vem o Edemilson. Brasileiro. A conduzir um carro manifestamente pequeno para o seu tamanho. Desconfortável (ele, o condutor). Vocifera a cada fila de trânsito (onde estão os uberistas que nos perguntam se o ar condicionado está bom, se queremos mudar de estação de rádio e nos oferecem um Ferrero Rocher?). Para compensar, trabalho em locais fantásticos e aprendo que me farto. O traba...
Um ano. A mais. A correr. Tudo na mesma. Para o bem. Para o mal. Um ano. As mesmas rugas de expressão. O mesmo peso. O mesmo cabelo branco. Perdido. Só. A mesma aversão pelos cortes de cabelo. Um ano. A lutar. Contra o tempo que escasseia. Contra a impotência. A minha e a dos outros. Contra o tumor benigno que incomoda. Contra a lista dos livros que quero ler. Um ano. E continuo… Obcecada pela ordem, pela simetria. Na estante, na secretária, no carrinho das compras. A tentar reciclar-me meditando. Um ano. E continuo… A chorar os meus avós, a minha infertilidade. A celebrar a minha mão-cheia de amigos, A saúde da minha família, A sorte de amar esta labuta. Os bons livros, a boa música, as boas vozes. Continuo por cá.
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