Estava hoje embrenhada nas minhas leituras de doutoramento, quando verti a minha infusão sobre o livro da leitura em curso, por sinal tomado de empréstimo. Lembrei-me logo das “técnicas” de envelhecimento de papel utilizando café ou chá que a minha amiga Rita me ensinou. Dei por mim a pensar que um livro manchado tem outro valor, outra significação. Há muito que não dou as minhas voltinhas nas feiras de velharias e alfarrabistas por onde vou passando (aliás, nos últimos tempos, deixei de fazer – estupidamente - muita coisa de que gostava…). Lembro-me de ter comprado, há largos anos, numa dessas feiras, um dicionário técnico multilingue dos anos 30, amarelecido pelo tempo, com cheiro a mofo e tudo! Ainda hoje o guardo religiosamente e, cada vez que pego nele, tento imaginar as mãos que nele pegaram antes de mim, as consultas que nele foram feitas, os tradutores ou outros curiosos que com ele conviveram, os motivos que os terão levado a desfazer-se dele… Resumindo e concluindo: gosto de ...
Um ano. A mais. A correr. Tudo na mesma. Para o bem. Para o mal. Um ano. As mesmas rugas de expressão. O mesmo peso. O mesmo cabelo branco. Perdido. Só. A mesma aversão pelos cortes de cabelo. Um ano. A lutar. Contra o tempo que escasseia. Contra a impotência. A minha e a dos outros. Contra o tumor benigno que incomoda. Contra a lista dos livros que quero ler. Um ano. E continuo… Obcecada pela ordem, pela simetria. Na estante, na secretária, no carrinho das compras. A tentar reciclar-me meditando. Um ano. E continuo… A chorar os meus avós, a minha infertilidade. A celebrar a minha mão-cheia de amigos, A saúde da minha família, A sorte de amar esta labuta. Os bons livros, a boa música, as boas vozes. Continuo por cá.
Sou uma baleia. Não pelo tamanho, mas pelo modo de sobrevivência. No fundo do mar, tenho um habitat temporário, turvo e povoado. Consigo ficar submersa por algumas horas, porque me foco na superfície. Penso nesse momento em que me encaminharei para lá, Em que esguicharei o ar quente e poluído, Em que inspirarei o ar puro e concretizarei a minha troca gasosa. Mesmo longe, comunico-me contigo. E quando te encontro, é lá que me reproduzo e amamento, É à superfície que descanso. É à tona que me oriento e me encontro: olho para o sol e navego... Para ti. És a minha superfície.
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