Pedagogia do Esquecimento (II)

[O preâmbulo e a primeira parte deste conto foram publicados, respetivamente a 10 de fevereiro e a 3 de março]

«Fool, I wonder if you know yourself at all
You know that it could be so simple.»
 


 
A presença dele, física e/ou virtual, impunha-se-me quando já a esperava. Matematicamente irritante.

Depois de semanas esquizofrénicas de noites brancas se terem acalmado, depois de ter quase desistido de olhar para o visor do telemóvel a todos os quartos de hora…

Nunca saberá o quanto e como o amei: há sentimentos e estados do ser fora do alcance da esfera narcísica de alguns seres outros.

No início do segundo ano, comecei a constatar o que era óbvio: dava-me azar. Sempre que ressurgia na minha vida, algo me era retirado. O saldo da dignidade era o que mais sofria. As perdas iam ficando a depurar no consultório da psicóloga incrédula.

Naquele dia, como nas sagradas escrituras, acordei a querer adormecer. Sentei-me na borda da cama e fiquei a olhar para a mala aberta. O rescaldo em jeito de balde de água fria do aniversário, há dois dias atrás, deixava um travo acidulado na boca, e o tal nó na garganta, em refluxo.

Seria aquela aparição onírica um presságio? A sua doce voz e os seus olhos de gato, a sua farta cabeleira, o seu sotaque…

Lembrei-me do telefonema aflito, há alguns meses atrás, perguntando-me se estava tudo bem…

Que saudades, minha amiga!

Saudades de alguém que cuide de mim.

Obrigada. A decisão estava tomada.

There’s no such thing as “simple” in your dictionary

Abril de 2013

Comentários

Rita disse…
A linha do tempo deveria permitir-nos fazer "pause" de vez em quando... Esta ação permitir-nos-ia estar com a memória dos momentos bons o tempo que quiséssemos, sem ninguém a interrompê-los!

Memórias e sonhos, a dualidade que nos comprime o coração que às vezes deixa de vibrar pelo presente.

<3
Ana Bela Cabral disse…
Obrigada pela tua fidelidade, amiga!
Sábia a tua reflexão!
Além do "pause", seria bom que, por vezes, nos fosse permitido fazer "delete"...
Hoje, aprendi a gostar mais de sonhos do que de memórias, e, curiosamente, a vibrar mais com o presente! :)
Beijo
Rita disse…
Sim! São os sonhos que me fazem ser persistente nos meus objetivos! Ainda agora "postei" uma frase que diz "A felicidade do homem depende de si mesmo"!
Vê se gostas do meu novo blogue...
http://piefmangualde.blogspot.pt/
;)
Ana Bela Cabral disse…
Nunca tive tanta certeza disso como agora, amiga!
Vou visitar o teu novo blogue! Até já!

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