A Fã
Conto
(Parte II)
(A Parte I foi publicada aqui a 26 de abril de 2014)
Entrei no posto de turismo com estas perguntas na cabeça:
“mas porque há-de alguém querer visitar a igreja de S. João Batista na terra Dele?
Porque é que a placa não O menciona?”…
Solícita, a senhora do posto de turismo deu-nos um mapa com
a localização dos seus sítios favoritos: a sala de espetáculos onde atuou pela
primeira vez, o seu restaurante preferido, o parque onde costumava andar de
bicicleta… Os locais eram próximos uns dos outros e a vila pequena, pelo que a
visita seria rápida. Num dos cantos do posto havia uma estante com uma guitarra
autografada, fotografias diversas, livros, alguns objetos pessoais. Eu estava
tão anestesiada que mal dei pela minha irmã perguntar onde é que Ele morava.
Voltei à Terra para ouvir a senhora dizer que não estava autorizada a divulgar
essa informação.
Agradecemos, saímos e fizemos o tour sugerido pelo mapa turístico. Um dos momentos altos deu-se
quando a minha irmã me tirou uma fotografia no exato local onde Ele pousou para
um dos posters que eu tinha então na parede do meu quarto. Chorei, na certeza
de estar a pisar o mesmíssimo chão e dei a viagem por ganha.
Nesse exato momento, penso ter ganho a compaixão e a adesão
do resto da família, transportada para cenários cúmplices, uns mais longínquos,
outros mais recentes. A minha irmã alvitrou que seria ótimo tirarmos uma foto à
frente da Sua casa e os meus pais aquiesceram: “já que viemos até aqui…”
Segunda tentativa: a minha irmã e o meu pai perguntaram onde
Ele morava a um senhor de ar muito simpático sentado num banco de jardim que
dizia ser amigo de infância do pai Dele. Mesma resposta: “não posso dizer.” Eu,
na minha embriaguez fanática, perdera as palavras e a audácia. Estar naquele
lugar bastava-me, mas seguia as tentativas alheias como uma marioneta espera
ascender à humanidade.
Faltava-nos o último ponto sugerido: a Sua gelataria
preferida. Sentámo-nos e pedimos a carta dos gelados. A minha irmã, com a corda
toda e em grande algazarra, perguntou à empregada qual era o sabor preferido
Dele. Dez minutos depois, estávamos todos a comer gelados de pistáchio e a
comentar os sucessos e insucessos daquela visita. A minha irmã, movida por uma
vontade solidária, lamentava-se de não conseguirmos tirar uma foto em frente da
casa Dele.
Uma senhora dos seus 50 anos, acompanhada de uma jovem, e
que, aparentemente estivera a ouvir a nossa conversa, acercou-se da nossa mesa
e disse em tom baixo:
- Acho que vos podemos ajudar. Venham ter connosco lá fora.
– E sorriu.
Comentários