Condicional

Se me amasses além de ti, sentirias esta dor.
Acorrerias aos meus pedidos de socorro.
Quererias ouvir as minhas lágrimas.

Não seriam necessárias palavras, explicações ou argumentos.
Nem paráfrases ou reformulações.

Palavras… São vãs, afinal.
Faltam gestos, atitudes, ações.

Condicional.
Tudo acaba por estar sujeito a cláusulas de exclusão.

Se me amasses além de ti, eu quereria estar contigo, aninhada nos teus braços, chorar no teu colo…

Mas há sempre condições, sobreposições, estados a defender.
Tal como a maioria dos sentimentos elevatórios, a incondicionalidade não existe, é um conceito falacioso, ilusório… Nem sequer efémero.

O nosso reino é sempre mais importante. A esfera que vamos construindo de nós próprios, mais brilhante. Somos sempre melhores que o outro. O outro é confuso, complexo, estranho…

A partir de um dado momento, deixamos de escutar, nem aguardamos pela nossa deixa, só a nossa resposta interessa. A nossa resposta é sempre melhor, mais sábia e ajuizada. E nem nos apercebemos que está desajustada… Que nem responde à interpelação. Que é apenas nosso apanágio e nem vemos o outro abanar a cabeça em silêncio.

Se amássemos além de nós, seríamos humildes. Não acenaríamos ao outro com os nossos troféus. O silêncio bastar-nos-ia.


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