Sexto encontro com o escritor


- São tristes as personagens dos seus livros. A felicidade não o atrai?

- A felicidade é um não-conceito. Não tem limites estanques, é escorregadia…

- Não é possível escrever sobre ela?

- Sim, é possível. O que não é possível é fixar na escrita uma personagem feliz. Feliz como? Para quem? Com base em quê? Nas minhas representações de felicidade?

- Não há traços gerais para a felicidade?

- A felicidade é um paradoxo: podemos estar felizes na perda e infelizes no ganho…

- É então tributária do nosso equilíbrio emocional?

- Não. É tributária de um estado de serenidade, de quase passividade, de um “tanto me dá que chova ou faça sol”…

- Inércia?

- Não. Aceitação. Aceitação do bom e do mau. Sem êxtases. Sem depressões.

- E onde vai buscar essa serenidade?

- Quem lhe disse que eu era feliz?

- Parece entender do assunto… Pelo menos, reflete sobre ele.

- Mais uma falácia. Reflito sobre ele porque quero alcançá-la, essa serenidade. Quando somos felizes, não refletimos. A reflexão é busca, é a assunção da nossa impotência.

- É então irracional essa felicidade?

- Não. Irrefletida.

 

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