Reunião de Condomínio

Fecho os olhos e consigo ver-te nitidamente nessa reunião de condomínio.
Foste dos primeiros a chegar e, penosamente, mantiveste conversas de circunstância até que se formasse o quorum.
Sentaste-te o mais longe possível do líder das hostilidades (há sempre um líder desses nas reuniões de condomínio), e o mais perto possível da porta.
Quase não tomas a palavra. Nada daquilo faz sentido para ti. Empatas o tempo à caça de erros de semântica e sintaxe ("As pessoas falam tão mal... Quem irá redigir a ata? Nem quero ler...", pensas).
Consigo ver-te tão bem que até arrepia... Vestido de escuro, disfarças mal os sorrisos e respondes com monossílabos ou orações simples. Não usas relógios, mas, se usasses, disfarçarias impecavelmente as vistas de olhos ao contador de minutos.
Quando chegaste, avisaste que tinhas um compromisso e que, provavelmente, sairias antes da reunião terminar ("estas coisas nunca começam, nem terminam a horas", pensas).
E de facto saíste; muito discretamente, com um aceno e um tímido "Boa noite a todos".
Quando chegas a casa, não pergunto como correu a reunião e tu não a relatas.
Ambos estivemos lá.

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