As Celas deste Mundo

É impossível passar pela experiência do filme Milagre na Cela 7, sem ficar com todas as estruturas abaladas...
É como acabar um livro excelente e ficar com aquela sensação de vazio, de quase-luto... Nada do que vier será tão bom.
As redes sociais encarregaram-se de dar a conhecer que o filme põe a chorar até o coração mais duro. O que elas não dizem (ou dizem-no pouco) é que o filme agita, tira o sono, interpela...
A mim, pôs-me a pensar nas celas metafóricas deste mundo. São muitas...
A primeira cela é a dos pensamentos. Aqueles que não pedimos para ter, que nos invadem, mas, ainda assim, são criados por nós. Aprisionam-nos na medida em que, por causa deles, perdemos a nossa energia vital; aquela energia que nos poderia levar à concretização de coisas maiores.
Há a cela do medo (que é, frequentemente, um “anexo” da primeira). O medo de dizer, o medo de responder, o medo de agir. O confinamento nessa cela impede-nos de ir em busca do novo, de explorar novas possibilidades, de crescermos além das nossas medidas.
A cela das convenções (que também se poderia designar de Cela dos Outros) impossibilita-nos de sermos nós próprios, de sermos genuínos, transparentes, porque tudo o que parecemos ou fazemos é ditado por terceiros, pelos ditos cânones do que é certo, pelas check-lists da sociedade.
Depois, há a cela do passado, das memórias, que, no fundo, está na antecâmara da cela n.º 1, dos pensamentos. É o viver em função de uma vivência que foi. E a nossa mente transforma-se numa casa assombrada, escura e fria.
A visita guiada pelas celas deste mundo poderia continuar, mas prefiro regressar à n.º 7. Prefiro acreditar que, por vezes, é necessário passar por uma cela para nos fazermos ao mundo com mais garra.
Quero acreditar que há celas que nos transformam em seres humanos verdadeiros, solidários e bons.


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