A.S. Antuã
Nunca gostei de conduzir no Porto.
O meu perfil disciplinado e amigo de regras coaduna-se mais com a condução da Capital.
As minhas frequentes viagens profissionais à Invicta trazem sempre consigo a dor de cabeça associada à logística da deslocação.
Foi por essa razão primária que nasceu um dos rituais mais estranhos que tenho: parar na A.S. de Antuã, Estarreja, beber um galão daquelas máquinas de vending da Delta Cafés, voltar ao carro, inserir as coordenadas no GPS e seguir viagem.
Aquele galão sabe-me pela vida e acalma-me os nervos da entrada na selva.
Lembro-me de uma vez em que, como habitualmente, parei, mas a dita máquina estava fora de serviço: fiz uma birra digna de uma criança e só me acalmei ao desembocar na Foz do Douro.
Poderia ter ido à cafetaria, logo atrás, e ter pedido um galão, mas não seria a mesma coisa.
O que é ainda mais estranho é que, quando vou acompanhada, embarco os meus copilotos nesta prova, como se da degustação de um tinto alentejano se tratasse. Perdi a conta aos anos em que faço isso.
Está na altura de eu pedir comissão ao Sr. Comendador.
Geograficamente, a A.S. de Antuã é uma espécie de marco quilométrico, de meio-caminho entre o lar e o dever profissional, e inversamente. Para lá, é onde paro para o meu galão e para me dar um rumo, para cá, quando por lá passo, sei que, daqui a poucos quilómetros tenho de sair para a minha A25, que é o mesmo que dizer que já estou quase em casa.
Se ainda não vos convenci do fascínio que a A.S. de Antuã tem sobre mim, tenho mais uma história.
Há uns anos, vinha com o meu marido na A1, a caminho de uma Feira na Exponor, e o carro começou a perder força. Onde acham que resolvemos parar? Na A.S. de Antuã, claro está!
Entre a espera pelo reboque e o táxi que nos levaria a um carro de substituição, tivemos de atravessar a autoestrada de um lado para o outro, naquele túnel aéreo envidraçado que, para mim, é o equivalente à atração mais perigosa da Disneylândia.
Hoje, voltei a parar lá com a minha filha. Impingi-lhe o galão, mas ela não gostou.
Paciência. Tinha de parar.
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