Imortal








Brumas de esquecimento, gigantes adormecidos, ogres, duendes, dragões, rituais de passagem para a outra margem de um rio baseados no amor incondicional… Não, este tipo de história não faz o meu género.

Contudo, como sempre faço com a literatura de ficção, concedo sempre o benefício da dúvida (sobretudo quando se trata de um Nobel), invisto tempo e paciência, procuro algo a que me possa agarrar.

No caso deste livro de Ishiguro, nem foi necessário o esforço. Apesar do cariz fantástico, a coluna vertebral da história construída sobre a viagem de Axl e Beatrice à procura de um filho vale por si só. Embrenhei-me completamente nesta história de amor, porventura das mais puras e íntegras que alguma vez li.

Para que servem, afinal, as lembranças? Serão efetivamente necessárias para construir o que somos? Não poderão os sentimentos que nutrimos por um/a companheiro/a de vida bastar à nossa felicidade? É possível amar até à morte, mesmo sem memórias?

É enternecedor este amor mútuo, motivadora esta devoção incondicional! O autor vai contra os cânones das best-selling histórias de amor: esta não é representada por um casal jovem, saudável, com a vida pela frente. Não. Esta história de amor está nas mãos de um casal de idosos, frágil, na reta final. Esta história faz-nos acreditar que é possível amar e cuidar até ao fim do caminho, injeta-nos a esperança de que só a morte separa mesmo. Que o amor imortaliza.


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