O Sentido de uma procura
Percebo hoje melhor as razões que tanto me agarraram à
literatura ao longo da minha vida. O porquê de horas consecutivas a ler, a
mergulhar na vida de outros, a imaginar e visualizar cenários, a apropriar-me
de falas.
Ou os motivos que me prendiam às letras das músicas, que me
levavam a traduzi-las, a disseca-las, a interpreta-las a capella perante um público ausente, mas emocionado.
Ou a entrar nos filmes que via e a viver as dores e as
alegrias das personagens, a fazer os meus próprios filmes.
E a mesclar tudo.
Os livros que me levavam às músicas e, mais tarde, à ousadia
de escrever. Que me faziam criar cenários, pintar rostos e guarda-roupas,
imaginar vozes… Procurar os filmes que inspiraram para materializar…
As músicas que contavam histórias, por vezes de desilusão,
por vezes de esperança. Que entrecortavam os filmes ou os aconchegavam.
Os filmes que, pela mão das bandas sonoras nunca escolhidas
em vão, me levavam às músicas ou aos livros à procura de detalhes, respostas,
interpretações…
Procurava-me. Construía-me.
Procurava o sentido do que sou e do que quero ser. Um fio
condutor, uma consistência. Um caminho de esperança, uma inspiração, a crença
no para sempre.
É uma procura incessante e não terá fim ou destino, mas o
guião começa a construir-se, a banda sonora a compor-se.
E, como nos milhares de romances que li, de músicas que me
arrepiaram, de filmes que me fizeram chorar, começo a acreditar que sim, que é
possível, que não existe ficção, que não há personagens…
Começou com um cenário de café, uma rapariga-mulher com a
cabeça sempre enfiada num livro, imperturbável. Um sonho que se julgaria
inconcretizável. Uma ousadia. Uma partilha de músicas, paixões, fraquezas…
O auge vive-se hoje, mas também amanhã. Porque se acredita e
se constrói com afinco e propósito. Porque a procura desembocou num sentido.
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