Casa de Memórias

Apaixonei-me pelas tuas memórias. Pela tua irritante capacidade de fixar o tempo. Com palavras, conseguias fotografar o espaço e o sentimento.

Sempre detestei em silêncio os adeptos do Carpe Diem, os esquecidos, os alienados do passado. Os que não choram ao ver fotos antigas, que não têm paciência para falar com os mais velhos na fila do supermercado, que se desfazem da roupa usada com facilidade.

Naquele dia de novembro, o meu prumo desabou. Eu, tão cheia de mim, de certezas, de mentiras. Tu, à minha frente, tão cheio de aparente calma, serenidade, incertezas.

Esqueci-me do tempo; deixei-me embalar na tua voz. Mas tinhas hora marcada e eu fiquei sem chão.

Os dias (as semanas, os meses e os anos...) seguintes foram estranhos. Passei-os a abrir precedentes, a quebrar as regras do meu código, a ser genuinamente feliz.

Acho que, sem querermos e sem procurarmos, descobrimos a tal fórmula mágica. O código secreto da harmonia e da plenitude. O dom de tirarmos as palavras da boca um do outro e, em contraponto, de não dizermos, no justo momento, o que o outro não quer ouvir.

É pena a história atual não rezar dos felizes. Esta casa de memórias seria um best-seller.


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