Mudança



Haverá partes de nós que nunca mudam?

Ouvimos com frequência: “Tu não mudas mesmo!”, “Há coisas que não mudam…”, “Foste sempre assim!”, etc. Por norma, ouvimos essas falas num contexto pejorativo, como se não mudar fosse uma espécie de defeito…

Gostamos todos de acreditar que somos seres evolutivos, a caminho de seres evoluídos. Por conseguinte, não gostamos muito de ouvir esses reparos e tomamo-los como uma crítica… Na verdade, são uma crítica…

De igual modo, quando somos nós a proferi-los, fazemo-lo com o intuito da crítica, de apontar o defeito.

Então, se temos todos mais ou menos consciência desses factos, porque não mudamos deveras?

Uma possível resposta é porque estamos convencidos que estamos certos e que o outro é que está errado.

E o que sustenta essa certeza? O que nos deixa convencidos de estarmos certos e o outro errado?
Talvez o simples facto de não querermos mudar porque é mais fácil acreditar que a nossa posição está correta, porque mudar dá trabalho e significa ser incongruente com o que somos, com o que os outros pensam que somos, porque vivemos numa época onde se espera de nós sejamos congruentes e certinhos.

Veja-se o que acontece quando mudamos de opinião, de partido político, de religião, de cônjuge ou companheiro/a, etc. Somos apelidados de traidores, interesseiros, infiéis, levianos, instáveis, etc. Ambas as listas não têm fim e a segunda enferma eufemismos.

À partida, nascemos formatados para a não-mudança. Só em meados de uma vida é que alguns – nem todos – se apercebem que devem mudar. Umas mudanças simples, outras mais complexas, e começam a colher-se uns frutos saborosos, temperados com o orgulho da capacidade de mudança.

E tropeça-se pelo caminho, a cada vez que notamos que, afinal, a nossa mudança não despoletou a mudança num outro. E que, afinal, a mudança é um ato muito solitário e que nem sempre vale a pena o esforço.

E voltamos à estaca zero. E voltamos a ouvir: “Tu não mudas mesmo!”.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sim

Longe daqui

O Mundo Dela