O que é que me aconteceu?

 


Na antevéspera de mais um aniversário, e embrenhada que estou na leitura deste livro (mais um sugerido pela minha psicóloga), impõe-se uma espécie de balanço que limitarei aos últimos 12 meses.

 

De forma resumida, começo por explicar que este livro é o resultado de uma série de entrevistas da grande Oprah Winfrey ao psiquiatra americano Bruce Perry, da sua própria experiência pessoal e de milhares de entrevista que ocorreram no cenário do The Oprah Winfrey Show a vítimas de violência doméstica e traumas de infância.

A grande mensagem do livro é a de que não devemos perguntar a alguém que sofre o  que tem, mas antes o que é que lhe aconteceu, pois, na maioria das vezes, a resposta para o seu sofrimento encontra-se no seu passado e, com frequência, na sua infância. Escusado será dizer que é mais um livro que está a dialogar comigo, a interpelar-me e a deixar lastro.

 

Não vou dissertar aqui sobre os meus possíveis traumas de infância. Aliás, de acordo com os mesmos autores, perto de 80% dos indivíduos carregam um qualquer trauma desde tenra idade, uns mais bicudos, outros mais leves, mas sempre com efeitos secundários. Cabe a cada um descobri-lo(s) e, consoante a gravidade e consequências, trata-lo, recorrendo, se necessário for, a ajuda profissional. É, aliás, o que estou a fazer.

 

Vou cingir-me aos últimos 12 meses da minha existência. Quer seja por causa de Mercúrio ou por ter atingido o meio-século, who knows, a verdade é que foi um dos anos mais desafiantes da minha vida. Desde o malfadado acidente de percurso durante o Caminho de Santiago até hoje, a minha sina não tem parado de me surpreender...

 

A minha saúde pregou-me partidas várias, partidas essas que me levaram ao confronto com a debilidade das instituições de saúde. Vi-me a braços (literalmente) com uma nova limitação física que me obrigou a rondas de fisioterapia e a repensar toda a minha rotina de treino físico (que tanto adoro). Assisti também ao regresso da doença crónica que não me define, mas que teima em reaparecer nos piores momentos (retórica...). Eu que pensava já ter driblado a “senhora”, vejo-me agora obrigada a reajustar tudo de novo: hábitos alimentares, controlo do stress, medicação...

 

Profissionalmente, tem sido um turbilhão de desafios...

A mudança de grupo de empresários, a saída de 2 funcionários que me obrigou, em tempo record, a reconfigurar tudo: os modelos de negócio, os planos de comunicação, os nichos de mercado, os modos de funcionamento e atendimento das empresas... Aliás, ainda estou bem a meio do dito turbilhão...

Mas, curiosamente, também foi no domínio profissional onde acabei por arrecadar os maiores ensinamentos e ferramentas para o resto.

Neste momento, estou a liderar um grupo de 35 pessoas e, se inicialmente, foi um choque, estou agora a utilizar o que aprendi para o resto.

Logo no início, quis desistir. Tive de partilhar tudo o que se estava a passar comigo com a minha diretora e ela tem me dado um apoio incondicional. Liga-me quase todos os dias, não para saber como está a correr a coordenação do grupo, mas para saber de mim, como estou. Comecei a aplicar o mesmo princípio com os meus membros e pessoas à minha volta por quem sou, nem que seja parcialmente, responsável. Comecei a interessar-me genuinamente pelas pessoas e não pelos cargos, a querer saber “o que lhes aconteceu” e não “o que têm”. Compreendo hoje que, porventura, faltou-me isso também. Quem me perguntasse o que me aconteceu e me desse um pouco de colo, não partindo do pressuposto errado de que não preciso de ajuda e – sobretudo – de que sou forte. Ninguém é forte.

 

Foi preciso desabar nos primeiros 3 meses deste ano para ter a humildade de pedir ajuda. Se as coisas já não estavam bem, ter perdido 2 dos meus 4 animais de estimação (quem me conhece bem, sabe o que isso representa para mim) e ter visto partir várias pessoas da minha vida, ditou a sentença. Obviamente, não culpo ninguém. Não há culpados. Talvez pudesse ter pedido ajuda antes, mas não teria passado por estas aprendizagens. De igual forma, também estou a aprender que não podemos exigir a quem nos é próximo que esteja sempre atento à nossa dor e aja em conformidade com aquilo que esperamos. Cada um leva a sua luta, cada um tem as suas formas de reagir e ajudar. E até as formas de reação mais cruéis e pungentes podem ter um efeito positivo sobre nós, se a nossa atitude estiver orientada para a mudança.

 

Não sei o que será do próximo ano, mas sei o que me aconteceu neste último e sinto-me mais preparada para as adversidades. A mais um ano!

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